home bio releases bands distro how to order contact zine tours f.a.q. links interviews / entrevistas reviews / resenhas

Entrevista: Halé
por Eduardo Bokaa (bokaa@karasukiller.com)
25.02.07

HALÉ
Qual a percepção de vocês quando escutam falar sobre "hardcore tosco"? Em dias atrás era recorrente surgir diversas concepções em minha mente, porém uma das primeiras coisas que remete para mim é Halé. Se você não conhece, gosta de hardcore rápido e sincero, então você não sabe o que é hardcore rápido e sincero. Essa banda foi formada anos atrás no Rio de Janeiro. Eles deveriam sair em selos das maravilhas do Rio de tão encarnados na cultura marginal dessa cidade de maravilhas e tristezas. O som deles não apresenta tantos constrastes como sua cidade, mas, dentro do que se entende por hardcore atual, mantém acesa uma chama que felizmente não se apaga. A chama do que é sincero, hardcore extraído dos poros, rapidez urgente, letras relatando o cotidiano dos sobreviventes da guerra civil que é o cotidiano carioca. E tudo isso acrescido da malandragem e bom humor que é uma das principais características desse povo.

Olá Halé, primeiramente obrigado por conceder a entrevista, gostaria que apresentassem a banda para nossos amigos que acessam o Karasu Killer Zine, e falem por que diabos vocês formaram uma banda de rock???
Bicho, muito obrigado pelo convite pra essa entrevista. O Halé é formado por Perninha (vox) Herbert (gaytarr), Guztavo (bass) e Maurinho (bateria e mau humor). Formamos a banda para tocar no Scala Gay, foi uma tentativa frustrada, isso nos fez rebelde e rebelde que se preze toca Rock com "érre" maiúsculo.
 
O que vocês exercem para manter a banda?
Eu trabalho numa imobiliária e às vezes faço um "biscate" de garçom junto com o Gustavo, o Herbert trabalha de vigilante da natureza e o Maurinho com "mau" de mau humor trabalha no hospital preenchendo fichas, servindo de cobaia pro proctologista Dr. Ferrão.

A passagem de vocês por São Paulo  rendeu três concertos, um deles deu uma zica por ser numa sexta-feira idiota, e os outros dois, eu pirei mesmo, pra valer, façam um breve resumo sobre a última passagem na megalópole cinza!!!!
Era um sonho voltar a tocar pelo centro de São Paulo, em lugares religiosos como a Rua Augusta por exemplo. No primeiro show a zica foi de nossa parte mesmo, eEstávamos cansados, bêbados, a guitarra não funcionava, o pedal da bateria quebrou, o Gustavo não pôde tocar, e o Vini quebrou o galho e tínhamos pouco tempo pra regular o som e tocar. Foi um show muito bem organizado, bem divulgado, som bom, bandas boas, casa cheia, público bom. Mas não era o nosso dia. O segundo show nós curtimos muito, e curtimos demais as bandas, admiro muito São Paulo pelas bandas, todas que vi até hoje me surpreendem. Este segundo show foi a revanche e não sei se gostaram do show, não somos técnicos nem somos músicos, colocamos nosso sentimento e nos divertimos, puta organização do Ferraz e Infernal Noise. O terceiro e último foi inesquecível, sem dúvidas nossa melhor apresentação em São Paulo, tínhamos a responsabilidade de fazer um show legal, já que muitos enfrentaram duas horas de viagem para assistir o show, rapaziada do Espíritos organizou um puta show.
 
Como anda a cena hardcore do Rio de Janeiro?
A cena hardcore do Rio de Janeiro vai bem obrigado, ótimos CDs sendo lançados, bandas com turnês européias, mas o que tem dado muita dor de cabeça é a falta de lugares pra shows. Sou fã das bandas
do Rio, tem de tudo e tudo quanto é banda boa. O que quebra são os malandros, os que tem o ego maior que o Cristo Redentor, mas isso tem em todo lugar.

Comentem sobre os materiais lançados e o que podemos aguardar do Halé no seu próximo trampo de nome "Lixo Extraordinário"!
Nossa primeira demo ("Músicas Para Quem Tem a M ãe Na Zona") foi lançada em setembro de 2004 e temos apenas este material lançado atualmente. O "Músicas..." é um CD com uma linguagem mais descontraída sobre temas ora idiotas, ora podres, ora cabeça. Indica bem o início da banda mesmo. Nosso próximo lançamento, "Lixo Extraordinário", é um CD com mais influências resgatando o deboche contido na primeira demo, um CD que gostamos muito de compor e que em breve estará à venda. O lançamento será pela Karasu Killer, Ah Danada, Tamborete, Abunai Records e U&R Records.
 
O que vocês têm ouvido enquanto desfilam correndo as ruas do Rio com suas bundas à mostra???
(Risos) Bicho, o Herbert gosta mesmo de mostrar aquela bunda feia, ele tem ouvido Mr. Catra, Earth, Wind and Fire, Ratos de Porão e Dicró. Gustavo tem ouvido Deftones e Madonna, Maurinho tem ouvido Catarro, Cafenoise e Force of Change, Perninha tem ouvido Black Flag, Toys That Kill, F.Y.P, F.O.M.I./Derci Gonçavels, WxHxN e ExPx.
 
Qual a melhor (e a pior) coisa que o hardcore pode proferir?
Hardcore bom é aquele que você escuta e sente vontade de correr pelado gritando pela rua, o que enfia um dedo no seu rabo, dois... três... depois o braço... a cabeça... o pescoço e entra dentro de você. Te veste. O hardcore é você, você é tudo, você não é porra nenhuma, você ama depois você sente vontade de matar. O hardcore te dá forças para acreditar, forças para lutar, quem vive sabe. A pior coisa que o hardcore pode proferir? Bicho é tu ir num show de hardcore, mandar um mosh e os maloquero abrir e você cair no chão de cara e quebrar os dentes, tem coisa pior que o hardcore possa proferir? No dia seguinte aquela gata não vai querer te beijar com esse dente quebrado. Outra coisa que o hardcore pode proferir de ruim é o maldito cheiro que vem do suvaco dos rapazes suados. Bicho, nenhuma gata vai querer um rapaz que fede a lixo podre.
 
O que é punk para vocês nos dias de hoje?
O Supla. Ele é punk bicho. Sei lá bicho, tô até perdido. Tem gente que diz que punk é quem tem moicano, tem gente que diz que é o cara que luta com sentimento libertário e igualitário. Acredito que todos têm que ajudar ao próximo, não pra ir pro céu, mas que é bom ajudar, um dia você pode tá podre na rua e precisar de alguém. Punk pra mim nos dias de hoje é o cara que luta pelos seus ideais, não o que luta pra criticar os outros.

Quais as atuais influências do Halé?
Não sei dizer bem... nós simplesmente vivemos, o Halé é a nossa vida. No novo CD, que está pra ser lançado, há uma música chamada "Me Desculpe", eu compus ela durante um dos três dias que passei dormindo na rua. Eu tenho costume de escrever bêbado, em casa folheei meu caderno e encontrei essa letra e musicamos ela, assim como outras músicas são nossa vida, as músicas idiotas? Somos tão idiotas e sem cérebro quanto elas.
 
Começo de ano, todos nós buscamos uma certa reflexão sobre o que passou e o que virá. O que vocês pensam acerca disso? O que foi bom em 2006 que em 2007 pode ser melhor ou o que foi ruim que não deve ser repetido?
Em 2006 bebemos muita cerveja, não podemos reclamar disto, devemos evitar em 2007 comer muito tira gosto e atacar mais na cerveja.

A cena política do país está cada dia mais pífia se tratando de nossos governantes. O Rio de Janeiro há muito tempo vive um estado de sítio, o que vocês acham que poderia ser posto em prática para diminuir a violência, criminalidade, desemprego e tudo que de ruim que acontece nessa guerra civil que já não ocorre apenas no Rio, mas em todo país e de fato o mundo qual vivemos e iremos deixar como herança para nossas próximas gerações?
Enquanto houver esse esquema de "oba-oba" vai haver essa corrupção, político não entra pra mudar a cena do país, entra como um dentista entra numa obra, como um pintor na padaria, entra pra receber seu dinheiro no fim do mês. Acredito que se cargos políticos fossem trabalhos voluntários, em que você não
ganharia dinheiro nenhum, a não ser comida e moradia afastaria muitos. um esquema de fiscalização maciça seria uma ótima idéia. O cara pede 2 bilhões pra comprar material de escritório e gasta apenas R$3 no camelô e embolsa o resto. Dinheiro que poderia ser investido em material hospitalar por exemplo.
Mas tudo isso faz parte do esquema. Político apoia a empresa do sobrinho... do filho... e quem tem grana sobe e quem não tem ou vende pó de dez ou então vai ser assalariado na puta que pariu e comprar televisão nas Casas Bahia pra ver o Big Brother. Pra pedir votos dá colete pra rapaziada jogar futebol, e votam mesmo. Subir o morro e mandar matar é fácil, quero ver construir escolas, centros educacionais com cursos. Enquanto o dinheiro estiver em primeiro lugar a vida estará em último. Seja qual for a língua. Religião.

Halé, gostaria de agradecê-los aí pela disponibilidade, amizade e pelas cervejas que entornamos sempre que vocês estão aqui ou eu baixo na terra de vocês. Posso dizer que um dos motivos por eu participar de bandas, tocando ou ajudando de alguma forma, é porque determinada época eu posso viajar e encontrar vocês, os Lastima, os TVAQ, os Confronto, amigos que estão do outro lado da Dutra. Obrigado por tudo, Karasu Killer também agradece. Palavras finais, o espaço é de vocês!
Bokaa, a Torre de Babel tá destruída assim como a Dutra tá sendo, corações que batem no mesmo ritmo, o motivo de estarmos tocando até hoje é por gente como você, o Rafa, os Attack Bastard, Xopo, Barreto, Fabian, swcf, Mussum, Espíritos di Porco, Panda, galera do Espírito Santo, Minas, Bahia, Belém, Natal, Rio de Janeiro, enfim... a todos que mantém o mesmo ideal e igualdade. E a todos que estão juntos, a família que nós escolhemos e que sentimos tanta falta. Muito obrigado mesmo pela entrevista e a todos que leram. Aos selos que apoiam a cena underground, aos zines. Grande abraço!

Links relacionados:
www.myspace.com/hardcorehale
www.fotolog.com/bandahale
www.tramavirtual.com.br/hale