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Entrevista: Perninha (Halé)
por Rafael Karasu
(rafael@karasukiller.com)
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº244
11/07

1-Halé, primeiramente explique para nossos amigos japoneses o significado do nome, e apresente os membros que compõem a banda.
Primeiramente muito obrigado por essa oportunidade! E quem conseguir ler a entrevista até o fim vai ganhar um saquê de brinde que o Rafa vai pagar! “Halé” ou “ralé” porque 75% da banda mora na favela e são todos “ralé”, dois moram na beira de uma vala. Mas o HALÉ são as iniciais dos integrantes que seria a formação da banda mas que só durou um ensaio. E as letras do nome “HALÉ” vem na seguinte ordem: vocal, guitarra, baixo e bateria. No vocal Herbert (atual guitarrista) na guitarra Anderson (eu, Perninha, atual vocal), Léo (ex-baixista e batera e atual produtor) e Edu (ex-batera). Hoje em dia conta com a seguinte formação, que chamamos de “formação original” pois foi a formação que começou a banda e a que fez os shows e que fez todas as viagens: Perninha (cantor), Herbert (guitarra), Gustavo (baixo), Maurinho (bateria) e Chuchu (guitarrista reserva e empresário).

2-Quando foi formada e o que motivou vocês a formarem uma banda de hardcore?
A banda foi formada em 2002, com a intenção de entrar sem pagar nos shows (risos). E principalmente por diversão! A banda era e ainda é o motivo pra reunir amigos e tomar cerveja. E tocamos hardcore porque é o que sabemos fazer. Se fossemos bonitos e fortes tocaríamos pop e seríamos ricos e morreríamos de overdose, mas preferimos cerveja e caipirinha... é a vida.

3-O que fazem além de tocar no HALÉ, todos na banda tem trabalho? Tem como conciliar banda e trabalho?
O Herbert trabalha como roadie/figurinista de uma banda, o Gustavo trabalha numa fábrica de cartuchos de impressora, Maurinho num hospital público na parte administrativa. O Chuchu numa feira vendendo biscoitos e eu numa imobiliária fazendo de tudo, vistorias, serviço de office boy, coloco placas, me prostituo etc (risos). É difícil conciliar mas não sabemos viver sem tocar hardcore, sem fazer shows etc.

4-O que significa o punk/hardcore em suas vidas? Vocês se consideram uma banda punk/hardcore tanto sonoridade quanto na postura?
Significa amigos. É muito bom viajar oito horas e encontrar amigos verdadeiros mesmo tão longe de casa que te esperam de braços abertos e com cervejas geladas. Sei lá, nunca paramos pra pensar nesse negócio de postura punk/hardcore, admiramos e respeitamos as pessoas que fazem coisas boas, mas acho que boas ações não têm a ver com o que você toca ou sua posição sexual, você não precisa tocar nem hardcore nem punk pra ajudar alguém ou fazer coisa que valha. Quando fazemos ou participamos de shows beneficentes não é por postura punk/hardcore e sim pelas pessoas que necessitam da nossa ajuda. Quando respeitamos homossexuais ou pessoas de qualquer etnia racial ou opção sexual não é por postura e sim por sermos assim.

5-Quais são as grandes influências da banda?
Dicró, Bezerra da Silva, Black Flag, Bad Brains, Toy Dolls, Toys That Kill, Jelliroll Rockheads, Mr. Catra, Biruleibe, o quinteto, Pink Floyd, D.F.C, DEF3, Village People, Earth, Wind and Fire, Calypso, É O Tchan, R.D.P, Cidinho e Doca e todas as bandas do atual cenário underground. Seja do Rio de Janeiro, de Gifu, de São Paulo, Fortaleza. Escutamos de tudo.

6-Hardcore rápido e sincero, essa é a maneira que analiso a banda, comente sobre as letras, o que vocês tentam passar ao público?
As letras são uma visão debochada de diversos assuntos. Elas são escritas geralmente no ônibus e saem quando acontece algo como um policial pedir nota fiscal da sua cueca e do seu chinelo para corruptamente lhe arrancar dinheiro. São escritas quando vemos mais um político fugindo com dinheiro escondido na cueca, quando matam três pessoas e deixam os corpos num carro em frente a uma creche onde crianças abrem o carro para olhar. Passamos a nossa realidade da forma que sabemos falar. Aqui no Brasil há muitos hospitais deteriorados e com falta de equipamento para tratamento, equipamentos e reformas que não foram feitas devido ao freqüente desvio de verbas. Fizemos uma letra que faz parte do nosso disco novo em que debochamos de uma utópica idéia que seria abrir uma churrascaria num hospital falido e fazer quitutes como uma perna amputada assada com batata etc.

7-Como é a cena hardcore no Rio de Janeiro? Explique para nós como está a cena por ai!
No Rio de Janeiro a cena está cada vez crescendo mais e surgindo a cada dia mais bandas bonitas, mas o que faz falta é espaço para shows por isso corremos sempre atrás de novos espaços para ter mais shows. Fora isso aqui no Rio há bandas que já viajaram pra Europa, ótimos CDs lançados. Acho que o Rio de Janeiro está bem representado (risos).

8-Comentem sobre os lançamentos do Halé e o que podemos esperar de “Lixo Extraordinário” (Extraordinary trash), disco novo que será lançado no Japão no mês de outubro?
Lançamos em 2004 o cd-demo “Músicas Pra Quem Tem a Mãe na Zona” e acabamos de lançar o disco “Lixo Extraordinário”. Nesse novo álbum podem esperar uma sensualidade musical atingida com poucos acordes que o fará sair correndo pelado e gritando pelas ruas de Gifu a Tóquio.

9-Qual seria a melhor definição da sonoridade do Halé neste disco novo?
É hardcore. Hardcore oldschool com influências de ritmos diversos.

10-O Halé toca muito pelo Brasil? Pensam em algum dia vir tocar no Japão?
Rapaz, temos feito muitos shows sim, mas infelizmente só pela região Sudeste do Brasil (Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro). Mas isso é por falta de tempo e por causa do trabalho de todos. Um dos lugares que queremos muito tocar um dia é o Japão. Adoramos os seriados do Jaspion e Ultraman e, esperamos estar aí pra ficarmos bêbados de saquê!!!

11-Que bandas japonesas você conhece? O que mais te impresiona nas bandas japonesas?
O lendário Gauze, Razors Edge, Jellyroll Rockheads, Fuck On The Beach, Vivisick... o que mais me impressiona é a capacidade que os japoneses têm de gritar e a velocidade na qual tocam! Assisti o show do Vivisick no Rio de Janeiro e fiquei impressionado!! Coisa linda!

12-Você vem de um lugar onde a cultura é completamente diferente daqui, como você imagina que é no Japão?
No Japão deve ser uma correria tremenda! Para chegar ao status de país de Primeiro Mundo após ocorridos como a bomba de Hiroshima, os japoneses devem ter pegado um ritmo de trabalho ágil e as ruas lotadas de pessoas correndo pra lá e pra cá.

13-Sabemos que a violência está em todos os lugares do Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, como é conviver em um lugar que existe muita corrupção, criminalidade, desemprego, como está a vida hoje no Brasil? Que futuro você vê para esse país?
O Rio de Janeiro é lindo, porém como todo lugar do mundo há locais perigosos nos quais você tem que saber andar para não se dar mal. Já morei na favela da Rocinha, a maior da América Latina e viver numa favela muitas vezes pode ser como viver numa ditadura onde a facção local lhe diz que cores de roupas você não deve usar e o horário de entrar e sair das comunidades. Políticos que roubam e desviam verbas acabam a cada dia com a chance do país crescer, desviando dinheiro de escolas fazendo jovens desistirem dos estudos para entrarem no mundo do tráfico de drogas.

14-O Rio de Janeiro é conhecido como “a cidade maravilhosa” com muita praia, caipirinha e mulher de biquíni, que aliás me faz sentir muita saudades! Comente sobre o que há de bom por aí?
Sempre que possível estamos na praia e curtimos muito esta cidade. Aliás, todas as cidades são boas. É só você achar o lugar certo dentro dela e os lugares errados também (risos). Mas se você sentir saudade pega um avião e passe uns dias lá na minha casa.

15-Vocês participam do Carnaval do Rio de Janeiro? Vocês rebolam junto com as lindas e belas garotas?
De vez em quando participamos, o Herbert quase morreu num Carnaval e não ia ter moral nenhuma quando chegasse ao céu porque iam matar ele quando ele estava vestido de mulher em pleno Carnaval. Botaram uma arma na cabeça dele, mas no final ficou tudo bem. Só a cueca dele que não ficou muito bem, ficou meio borrada... acontece né?

16-Explique para nós os grandes pontos turísticos de sua cidade!
Nas favelas em que não há áreas de lazer moram diversos brasileiros que nunca foram no Cristo Redentor ou no Pão de Açúcar (eu mesmo nunca fui) por causa do preço alto. Nas favelas a atração turística é presunto, só quando morre alguém que vão crianças com algodão doce e bexigas pra olhar e se divertirem comentando sobre “como o cara deve ter morrido”. Mas você pode conhecer o Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Arcos da Lapa entre muitos outros lugares! Praias de Cabo Frio, Arraial do Cabo, museus etc.

17-Há muitos turistas japoneses por aí?
Cara, ultimamente com os Jogos Panamericanos eu vi bastante, porém onde vemos muitos japoneses é na pastelaria. Praticamente em toda pastelaria do Rio de Janeiro tem um. É impressionante!

18-Quais lugares você recomendaria para o pessoal daqui do Japão, além de um show do Halé?
A diversão vai depender de quanto o pessoal vai vir no bolso. Se vier com pouco dinheiro pode ir se divertir no baile funk, nas praias etc. E o que recomendamos? Recomendamos o Bar do Zé Mendiguinho que é um bar e sucata e vende a cerveja mais gelada da favela Vila Sapê.

19-Deixe a mensagem do Halé para os leitores japoneses.
Leitores japoneses, por favor, façam um abaixo assinado para podermos entrar no seu país! Só assim poderemos entrar (risos). E muito obrigado pela leitura. Agora peçam o saquê que o Rafael tem que pagar pois é o direito de vocês! Abraços a todos e até um dia quem sabe.

Contatos:
www.myspace.com/hardcorehale
www.fotolog.com/bandahale

www.tramavirtual.com.br/hale