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Entrevista: Nomares
por Kenji Yamaji
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº254
09/2008

1. Como que se formou o Nomares?
Caju: A banda começou em 2004 com outra formação, a idéia era fazer  músicas próprias e gravar uma música que seria lançada em um CD de um site de bandas brasileiras aqui no Japão. Em 2005, conheci o Rafael pela internet que passou a fazer parte da banda e logo depois entrou o Akira (Injecting Steel) e o Maurício (N.E.K), depois com a banda formada conseguimos gravar seis músicas para nossa primeira demo “Pensamento Mal”.
Rafael: Com a demo pronta, distribuímos para muitas pessoas aqui no Japão, queria mesmo era conhecer os Punks Japoneses, nessa época conheci o Nakamura San (Answer) que nos deu uma grande ajuda para ingressar na cena Japonesa, nosso primeiro live para o público japonês foi organizado pela Answer!

2. Por que a banda acabou?
Caju: O Akira saiu da banda por razões pessoais, nesse tempo o Rafael começou a tocar no DARGE e no N.E.K, eu no momento estou sem tempo pra tocar, mas a idéia é de continuar a fazer músicas e gravar em estúdio!
Rafael: Na verdade o Nomares não acabou, a banda parou por um tempo indeterminado. O Akira se cansou de tocar Punk Rock com a gente e saiu, sua esposa também está grávida, então ficou muito difícil para ele conciliar, família, trabalho e banda, eu na verdade continuo achando que tenho tempo para tudo! Quem sabe um dia voltaremos para relembrar nossos velhos tempos!

3. Eu acho que o som de vocês é uma mistura de Ramones com Hardcore Brasileiro. Qual dessas é a maior influência para o som de vocês?
Caju: Ramones foi uma escola e é ate hoje, foi ali que tudo começou, mas a maior influência veio de bandas do Brasil, como Ratos de Porão, Cólera, Olho Seco, Mukeka di Rato, D.F.C, entre outras bandas.
Rafael: Sem dúvida o Hardcore brasileiro corre em minhas veias.

4. As letras são em português? O que elas dizem/transmitem?
Caju: As letras falam desde um momento de raiva ódio e de insatisfação, Punk Horror. Em músicas como “Na Igreja Não!” / 教会は信じるな, “Destruir” / 破壊e “Rezar” / 祈りexpressamos nossa raiva contra esse fascismo religioso de pessoas iludidas e enganadas que existem por aí, seja no Brasil ou no mundo. “Quenguinha” / 娼婦, desprezo por uma prostituta, onde ele ignora e rejeita, “Ei Garota!” / ヘイ彼女!, um cara que sempre quis transar com a garota, mas ela nunca quis, mas um dia ele descobriu que ela era uma puta e fazia programas, ou seja pagando ele teria ela. “Putaria” / やり放題o cara foi em uma festa, bebeu demais junto com as mulheres, e depois acordou nas piores situações possíveis, e por isso hoje ele não bebe mais.
Rafael: As letras são todas em português, só assim podemos transmitir o ódio que sentimos através de nossa língua! Já me senti frustrado nessa vida, triste e sozinho, “Pensamento Mal” / 悪思考, “Você vai morrer também”/ お前も死ぬ,  “Gritar” / 叫び, “Minha Mente Suicida” / 俺の自殺知能 e “Infeliz Aqui” / 不幸são sintomas de insatisfação pessoal, raiva, desgosto, angústia, depressão e suicídio, acho que todos já sentiram isso alguma vez na vida.
“Você Merece Morrer” (You Deserve to Die) “Today all I feel for you is hate,I feel like hitting you, Maybe until you die, you deserve it, You deserve to die!!!” essa música vai sair em breve no V/A TOO CIRCLE World Hardcore Punk Compilation 2CD, temos essa música no CD mas está em um vídeo gravado em Hamamatsu Shizuoka.

5. Qual o significado do título “Rascunhos 2005-2008”'? É em português?
Caju: Sim, Rascunhos é em português, o Maurício deu a idéia desse nome, que quer dizer rasuras, antes de ser passado a limpo, algo ainda tosco, não terminado! A intenção era ter entrado em estúdio e ter gravado tudo e mais algumas músicas novas, como isso não foi possível pela saída do Akira, “Rascunhos” foi um título ideal!
Rafael: Temos nesse CD gravações que fizemos ao longo desse tempo juntos, músicas da  Demo “Pensamento Mal”, gravações ao vivo no Huck Finn em Nagoya, gravações no Studio Zen produzido pelo Okazaki San (Eternal Elysium) e Interceptor Studio por Marcio Maeda nosso amigo brasileiro. Juntamos tudo isso e virou nossos “Rascunhos” desde 2005-2008, agradecemos muito o Shutoh San (E.A.S.T. Peace Records) por lançar esse disco!

6. Você pegou a abertura SE de um filme? Por que fez isso?
Rafael: Pura falsidade e enganação, pessoas acreditam em um falso Deus, pensam que dando dinheiro serão mais felizes. Aqui mesmo no Japão, brasileiros que vêm para trabalhar em fábricas, largam tudo para administrar igrejas e arrecadar dinheiro de pessoas idiotas e ignorantes. “Em Minokami Gifu existe mais igrejas do que supermercados brasileiros”
Caju: A letra da música é simples e direta, fala do fanatismo e da enganação das igrejas sobre as pessoas que estão cada vez maiores no Brasil, em cada esquina tem igreja prometendo cura para a dor e doenças, até a cura para o HIV, essa intro foi retirada de uma reportagem da TV onde um Pastor (líder religioso) pede dinheiro para realizar as curas!

7. Você está tocando com o Darge e o N.E.K, e também tocava numa banda de metal (Injecting Steel). Você poderia me falar um pouco sobre cada uma delas?
Rafael: No Injecting Steel eu tocava heavy tradicional anos 80, é uma banda formada somente por brasileiros e as influências são Judas Priest , Running Wild, Accept entre outras. Entrei na banda pois na época eles estavam sem baixista, acabei ficando dois anos tocando, até que chegou uma hora  que não estava conciliando mais nada em minha vida, então no começo desse ano eu deixei a banda. Conheci o Oze (gui/vo), do Darge ,em maio de 2007, entrei na banda em novembro, assumindo a bateria na mesma época Shinnsuke San (ex -J.U.U.M.), sempre quis tocar com japoneses, por que  gosto muito de bandas como S.D.S, Death Side, Paintbox, Crow, Lip Cream, Systematic Death, Gauze, Corruption Of Peace, Gouka, DSB, Nightmare, Vivisick, Flash Gordon, Nice View, Out Of Touch, C.F.D.L. Encroached,  entre muitas outras, se escrever os nomes aqui vai ficar muito extenso! Gosto muito de tocar baixo no Darge pois toco um estilo que leva à loucura, é uma experiência fantástica e ainda posso colocar minhas idéias nas músicas, então vira aquela mistura caótica do Hardcore Japonês com o Hardcore Brasileiro! Sendo músicas cantadas em japonês e em português! Aguardem nosso trabalho que sairá em breve, estamos finalizando as gravações.
O N.E.K. é minha loucura, a maior piração que você possa imaginar, minha primeira experiência como vocalista, onde eu expresso o ódio e a raiva que sinto desse mundo hipócrita e grito para todo mundo ouvir! Formam a banda Naito San (C.F.D.L, ex-Out Of Touch) sempre admirei seu trabalho e agora tocar com ele é demais. Meu primeiro amigo de Nagoya, o Maurício (ex-Nomares) e o garoto destruidor Rapha Mini no bass! Bateria ultra rápida, Thrash Punk com aquele grau de crossover, Hardcore de latino doido com um japonês na bateria!!! Isso é o Niños Em Kombate!  

8. Cada banda (as mencionadas acima e o Nomares) tem um estilo próprio. Você
toca nelas porquê você gosta de estilos diferentes de músicas? Você não prefere
tocar em bandas que tenham estilos parecidos?
Rafael: Gosto de estilos diferentes, mas dentro do Punk Hardcore, como por exemplo Real true Hardcore! General 80's Japcore/Punk, japanese ThrashCore, 80's brazilian Punk Hardcore, 70's Punk Rock, US Hardcore, Sweden Punk, UK Punk, Crossover, Thrash Hardcore, D-Beat, Crust, Grindcore, Powerviolence, Thrash Metal, Death Metal, Raw Grind Mayhem. Teve uma época em que eu tocava baixo em três bandas, assim já era cansativo para mim, então hoje no Darge sou baixista e no N.E.K vocalista. Se eu tocar em bandas com estilos parecidos não seria bom, pois sendo diferente posso separar mais cada banda!

9. Qual sua banda/disco favorito?
Rafael: No ano de 1997, eu tinha 13 anos e trabalhava de bicicleta entregando documentos para um escritório, andava na cidade e sempre parava em lojas para ver CDs! Naquela época enfiava goela abaixo bandas como Iron Maiden, AC/DC e Kiss, achava aquilo demais, mas eu precisava de mais, precisava ouvir bandas brasileiras, foi quando comprei o CD “Feijoada Acidente – Brasil”, do Ratos de Porão, achei perfeito, encaixou perfeitamente com o meu jeito! Um tributo às bandas punks do Brasil. A partir desse disco que comecei a conhecer o Hardcore Punk Brasileiro! Fui atrás de informações e não parei mais! Citar uma banda favorita é impossível! Gosto muito de Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera, Restos De Nada, Lobotomia, Inocentes, Lixomania, Psychic Possessor, Ação Direta, Garotos Podres e Ulster.

10. Você sempre pergunta para as bandas Brasileiras o que elas acham da atual situação no Brasil. E você, o que acha da atual situação no Japão onde você está vivendo hoje?
Rafael: Brasil? Não vejo futuro para esse país, quem é pobre sempre continuará sendo pobre, e o rico cada vez mais rico, é um país cheio de injustiças sociais e desigualdades. Já completou cinco anos que vivo no Japão, saí do Brasil porque lá eu não teria condições para ter nada. Eu era pobre, o pouco que eu ganhava de salário era pra ajudar nas despesas de casa, e a miséria que sobrava eu comprava CDs e cigarro! Comecei a estudar em um universidade, tirei habilitação de carro, mas tudo isso dependendo do dinheiro da minha mãe, na verdade não era isso que eu queria. Queria mesmo era sair daquele inferno para tentar a vida trabalhando no Japão, hoje aqui é diferente, gosto da vida que levo aqui, pois posso trabalhar e ter um dinheiro, posso fazer minhas coisas, pois trabalhei e tenho direito de ter isso. Posso sonhar com um futuro.
Caju: O Brasil é um país que tem tudo para crescer, mas sempre anda caindo por ter uma política extremamente corrupta onde os governantes querem tirar o dinheiro do povo! O Japão é um país estável, creio que se pode confiar nos governantes e que fazem alguma coisa pelo cidadão e pelo país! Moro em Minokamo  Gifu-ken.

11. Quero te fazer uma pergunta pessoal. Onde vc nasceu no Brasil? Como e
quando você se integrou ao mundo punk? Você já foi discriminado no Japão?
Rafael: Nasci em São Paulo Chaos, desde pequeno minha mãe dizia “Esse não será um bom lugar para esse menino crescer”. Nunca tive um pai, foi uma adolescência conturbada, rebeldia, envolvimento com drogas muito cedo, mas tudo isso mudou quando tinha 15 anos, pois aprendi a tocar baixo daí entrei de cabeça na música. Eu nem sabia tocar direito quando comecei a tocar numa banda chamada Aneurysm, fazíamos covers de Nirvana, Sex Pistols, Ramones e Punks do Brasil. Essa vontade de expressar a raiva de ser injustiçado vem do Punk Brasileiro.
Cerca de 250 mil brasileiros vivem no Japão, a terceira maior colônia estrangeira no país, sim já fui discriminado no Japão, como muitos brasileiros já foram, não vou mentir. Uma vez queria comprar uma camiseta em uma loja, mas quando entrei na loja eu já estava sendo colocado para fora, fiquei sem entender, pois na época não sabia nada sobre o Japão. Dentro do trem mesmo, muitas pessoas evitam sentar ao meu lado, é muito estranho ver só eu sentado e muitas pessoas de pé, já trabalhei em fábrica de bentoya, onde senhoras japonesas me tratavam mal, são inúmeros fatos ocorridos, até mesmo quando queria conhecer um puteiro não me deixaram entrar, uma placa informava “japanese only” isso é assim até hoje! (risos). Mas quando conheci pessoas japonesas da cena vi que não tinha esse preconceito, é um pessoal que gosta de trocar idéias com você! Um pessoal que quer saber do seu país e de sua cena, isso pra mim foi muito bom e me ajudou a esquecer os problemas de discriminação. Hoje tenho mais amigos japoneses do que brasileiros! Gosto muito do Japão e se ainda existem pessoas com preconceitos, um dia entenderão que independente da cultura somos seres humanos iguais!

12. Você poderia nos falar sobre a Karasu Killer?
Rafael: Esse selo é minha vida, onde posso mostrar para amigos japoneses que no Brasil temos boas bandas. O Karasu Killer Records é um selo independente e uma distro que nasceu para fazer o intercâmbio Brasil-Japão. Além de seus próprios lançamentos, o KKR distribui material de bandas brasileiras no Japão, assim como o caminho inverso. Acreditamos no cenário underground e na postura D.I.Y. (do it yourself). Nossa intenção é trabalhar com vários estilos, como punk rock, hardcore, japcore, crust, fastcore, power violence, thrash e grindcore. Resumindo: barulho! Tendo em vista a crise do mercado fonográfico brasileiro, que gera custos altos e injustos para o consumidor final, a KKR tem o intuito de manter preços justos e acessíveis.
O propósito da existência da KKR não é enriquecer e lucrar em cima do underground, mas sim distribuir música que julgamos ser boa e com alguma mensagem a passar.

13. Você deve sempre estar bem ocupado cuidando do seu selo, tocando em bandas e escrevendo artigos. De onde você tira forças para isso?
Rafael: A força para eu continuar lutando e me esforçando com meus trabalhos é a humildade e o respeito de vocês! Me sinto muito feliz tocando em bandas, trabalhando com o selo e escrevendo artigos!!!! Minha vida ficará perfeita quando não precisar mais trabalhar em fábrica!!! (risos).

14. Deixe uma mensagem para nossos leitores.
Caju: A violência pregada na música e nos filmes da TV é legal. Na vida real não tem graça!!!
Rafael: Quero muito agradecer ao Yamaji San pela oportunidade, ao nosso grande amigo Shutoh San pelo suporte, a todos os amigos que nos acompanham por mais de dois anos seja brasileiros ou japoneses, somos todos um só! União faz a força sempre!!!! Muito obrigado a todos por sempre nos ajudarem!!!

Contatos:
www.myspace.com/nomares
karasukiller@karasukiller.com