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Entrevista: Nerds Attack!
por Rafael Karasu (rafael@karasukiller.com)
Fotos: Mauricio Santana
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº251
06/2008

1- Nerds Attack como vocês estão?
Estamos bem por aqui, obrigado por perguntar! Batalhando dia após dia, correndo contra o relógio; poluição, trabalhos pendentes, faculdade... Ah, isso é São Paulo. Já estamos acostumados a respirar essa deliciosa rotina com gostinho de poluição e stress, aqui é “live fast, die young” mesmo!

2- Quem são os Nerds Attack hoje em dia? Comente sobre a história ,como e quando foi formada. O que motivou vocês a formarem a banda?
Inicialmente, éramos apenas um projeto divertido de três amigos patetas, com bases simples e diretas tocadas na velocidade da luz, oh yeah! O Nerds iniciou suas atividades com Fabiano (guitarra), Barreto (baixo) e Xopô (bateria); depois de pouco tempo fechamos o quarteto com a presença do nosso querido urso gorduxo Foca (vocal). Essa é a formação do Nerds Attack! inicial e atual; Nossa maior motivação é poder mostrar às pessoas que nossa amizade foi a principal chave pra que pudéssemos fazer em conjunto algo que sempre foi muito importante pra nós quatro; que nos faz viver cada dia como se fosse o último: questionar, tocar, contestar, gritar, falar sobre o que julgamos certo e errado, positivo e negativo.

3-Quais são as grandes influências da banda?
Somos bem ecléticos e, apesar as diferenças e dos gostos preferenciais de cada um, a banda no geral ouve de Folk à Psytrance, de Funk Carioca à Thrash Metal, de Surf Music à Rap, mas o que realmente nos faz sentir sangue correndo nas veias é o Punk/Hardcore e suas vertentes. Na criação do Nerds Attack! fomos fortemente influenciados por bandas de fast/thrashcore como Scholastic Deth, Razors Edge, Jellyroll Rockheads, L'amicco di Martucci, The Tangled Lines, Discarga, Chuck Norris, Idol Punch, Secret Seven, Triste Fim de Rosilene e claro, Limp Wrist, que não só é uma das bandas de hardcore que mais piramos sonoramente, como também é uma grande influência em nossa temática chave, pois explora a luta contra a homofobia, a transfobia, o sexismo, dentre muitos outros preconceitos conservadores, que são mantidos pela religião como pecado, pelo Estado e suas intervenções, pela Mídia e seus veículos de comunicação, pelo marketing capitalista que desenvolve assimilações e por muitas outras formas, que consequentemente agregam valores, desrespeitam a diversidade e dão nome aos bois, sem que nem mesmo nós tenhamos a capacidade de definir (ou não) nossa própria sexualidade.

4- O que significa o punk/hardcore em suas vidas? E consideram-se uma banda punk/hardcore tanto na sonoridade como na postura?
Talvez essa resposta não seja muito satisfatória, mas o significado do punk/hardcore em nossas vidas pode ser descrito através de uma só palavra: Muito! O punk/hardcore nos faz ser essas crianças rebeldes e contestadoras que somos com tudo que ouvimos ou lemos, nossos pais e a sociedade em si não gosta, mas nós adoramos ser assim e usamos nossa postura na banda.

5-Todos na banda têm um trabalho? Como é conciliar trabalho e shows?
Todos trabalham, ou pelo menos fingem que o fazem. O Foca ganha dinheiro em barras de ouro, dando suporte para softwares de segurança, Fabiano trabalha em uma gráfica localizada no centro da cidade o dia todo (local o qual pediu demissão antes da turnê do Nordeste, e concederam o trabalho de volta pro cara depois! Vai entender...), Barreto fica o dia inteiro criando enquetes em comunidades brasileiras e trabalha com contabilidade, e eu pra finalizar trabalho com caixas eletrônicos e serviços de compra, atendo o Brasil todo, escuto esporo por telefone, tomo muito chá verde e leio alguns livros. Nós até que conciliamos bem trabalho, shows e ensaios, mas fora essas atividades, temos pouquíssimo tempo pra nos ver. Mas como o pessoal de Brasília mesmo diz: “Se o rock estiver atrapalhando seu tempo para estudar e trabalhar, largue seu trabalho, largue os estudos!” o bom mesmo é viver sempre o mais intenso, o mais real. Trabalho se arruma qualquer hora, mas o rock é um só!

6- O Brasil é um país muito grande, a banda tem passado por muitas cidades e estados, me diga qual é a reação do público de cada lugar? Existe uma diferença?
Até hoje, tocamos em seis cidades do nordeste brasileiro, duas cidades da região centro-oeste e três cidades do sudeste, além de São Paulo (se não me falhe a memória e as contas, foi isso mesmo!) e é muito curioso ver que cada local possua suas próprias características; são públicos diferentes, e em cada lugar pelo qual passamos recebemos carinho e atenção diferenciados. Na realidade, pra nós quatro é muito prazeroso poder viajar, tocar em outras cidades e em outros estados, reencontrar amigos, conhecer novos lugares e novas pessoas. Temos muita vontade de conhecer o sul do país, que junto ao norte são as regiões que faltam desse gigante país chamado Brasil.

7- As músicas são cantadas em português, explique o conteúdo das letras do Nerds Attack! Como é o processo de composição?
O Nerds Attack! aborda em suas letras temas diversificados, mas nós pegamos mesmo pesado com o lance da homofobia e do preconceito social, da hetero e homo-normatividade, da imposição religiosa dentro e fora do hardcore, dentre vários outros temas. A diversidade temática é bem ampla cara, temos músicas que falam desde malefícios criados a partir do momento que reprimimos nossos sentimentos até a exploração animal, que gera atrativos culturais como rodeios, vaquejadas e touradas, justificados apenas culturalmente, mas nunca eticamente.

8-Todos os membros da banda adotam a postura Straightedge? Como é este cenário no Brasil?
O Nerds Attack! não é uma banda Straightedge, apesar de alguns integrantes serem adeptos à postura livre de drogas. No Brasil, o cenário straightedge teve grande ascensão nestes últimos anos. Muitas pessoas têm se interessado em conhecer mais sobre o surgimento e a historia do movimento. Com o aumento do número de adeptos à ideologia no Brasil, aumentou (e tem aumentado gradativamente) o número de bandas, zines e coletivos criados e formados por integrantes straightedge. Como tudo que se amplia consequentemente acaba criando suas vertentes, hoje em dia cada um carrega consigo seu próprio conceito sobre o que é o straightedge e o que a abstenção de drogas representa para cada individuo. Para nós o straightedge é, desde o seu surgimento, uma vertente criada através do punk, pertencente ao punk, de característica contestadora, isenta em relação ao uso de entorpecentes, sem orgulho, libertária. Este posicionamento é do Nerds Attack!; não obrigamos ninguém a pensar como nós, cada um agrega consigo sua própria representação; apesar de algumas linhas acabarem ficando meio distorcidas, dogmatizadas, sem sentido e às vezes até opostas à idéia inicial, não somos nós que vamos apontar o dedo na cara dos outros e dizer quem esta certo e quem está errado, ninguém é dono da verdade. Como já dizia também o Betercore (banda straightedge Holandesa) “nós sabemos que é correto não beber, mas também sabemos que é correto beber”; cada um faz o que quiser da sua vida, independente do posicionamento. Ser straightedge não é sinônimo de ser uma pessoa boa e correta, afinal filho da puta tem em tudo quanto é canto e isso nunca vai mudar.

9-De uns anos para cá está surgindo uma nova safra de bandas punk/hardcore no Brasil. Como vocês enxergam essa renovação? Quais vocês consideram os destaques?
Bom, a renovação é boa, pois significa que ainda existem pessoas envolvidas com o punk/hardcore e que querem demonstrar e passar informação através da banda. Os destaques da nova geração são o Nossa Vingança (que vai sair em cd split conosco em breve, e será lançado pela Karasu Killer, né Rafael!?!), Discarga, Demonkrätzie, D.E.R., Justiça, Shit With Corn Flakes... e várias outras que amamos demais, é até injusto citar somente essas!

10- Em breve sairá no Japão o split NERDS ATTACK! / NOSSA VINGANÇA, como está sendo a repercussão desse lançamento ai no Brasil? O que vocês esperam da distribuição aqui no Japão via Karasu Killer?
Cara, sinceramente pra nós é uma grande vitória ter o apoio da Karasu Killer, divulgando esse material split cd no Japão. Às vezes eu paro e penso “Porra cara, Japão! Onde é que diabos a gente foi se meter???” Eu nunca imaginei que um dia pudéssemos ter coordenação suficiente pra aprender a tocar rápido, quanto mais ver que um dia nossas músicas seriam divulgadas em um trabalho lançado do outro lado do mundo e ao lado de uma cena hardcore/punk que tanto amamos!

11-Cada vez mais se fala da corrupção, violência e desemprego no Brasil, que futuro você vê para o país?
Pensamos que esse três itens citados, corrupção, violência e desemprego sempre farão parte de paises subdesenvolvidos e desenvolvidos, esses com índices menores de desemprego, sendo que corrupção e violência fazem parte de ambos, a partir da convivência desumana do ser humano com o capital, é a lei do cão, quem tem mais quer mais, que não tem também vai querer um pouquinho, e os espaços para quem não tem nada são escassos e de difíceis caminhos.

12-Expliquem para nós quais são os pontos positivos e negativos de viver em São Paulo.
Os pontos positivos são alimentação a qualquer hora do dia, opções de cultura e lazer, vários hospitais espalhados pela metrópole e é possível adquirir qualquer objeto, livro, disco, roupa ou qualquer outra bugiganga nessa cidade, impressionante... Sei lá até onde esses itens de consumo são bons também! Em comparação os pontos negativos ganham de lavada e eles que deveriam ser os mais importantes para nós seres humanos, meio de transporte caótico e limitado, seja ônibus ou mêtro, qualidade de vida baixa, se comparado a cidades rurais, violência, corrupção política, crescimento desordenado, educação não adequada, diferença social elevada....

13- A cultura do Brasil é completamente diferente daqui, o que você conhece do Japão? O que você admira nesse país?
Sabemos bastante coisa até, que no Japão tem pouca polícia nas ruas, não existe andar térreo, todos prédio começam do primeiro andar, é o menor hino nacional do mundo, motoristas de táxis não aceitam gorjetas, não tem cemitério por ser um país territorialmente pequeno, tem alguns lugares que é permitida a caça a golfinhos (isso choca muito, já que para os brasileiros no geral, esse animal é um ser “mágico”). Como somos nerds, admiramos a tecnologia de ponta que vocês tem, estamos a milhares de anos luz atrás de vocês, agora que fizeram um projeto no papel do trem bala e a culinária maravilhosa com shiitake, shimeji, algas, soja, tofu, yakisoba...

14-Que bandas japonesas você conhece? O que mais te impressiona nas bandas japonesas?
Poxa, agente até que conhece bastante coisa do Japão e, sinceramente, as bandas de Fastcore japonesas são nossas maiores influências. Gostamos muito de bandas como Gauze, Lipcream, Exclaim, Youth Enrage, Razors Edge, Jellyroll Rockheads, Flash Gordon, Breakfast, Nice View, 324, Idol Punch, Rose Rose, 1000 Travels of Jawaharlal, Tomorrow, Battle of Disarm, Gauze, Vivisick, Melt Banana, Yellow Machinegun… dentre muitas outras que eu poderia ficar citando por um bom tempo! Acho que a junção de músicas rápidas e alegres tem muito haver conosco, adoramos som acelerado, somos extremamente patéticos. Unimos a realidade caótica do dia a dia de uma grande metrópole com a energia e a empolgação de baterias rápidas e incessantes, um pouquinho de café e vamos lá! Temos um novo dia pela frente.

15- Deixe a mensagem do Nerds Attack! para os leitores japoneses.
Gostaríamos de agradecer a você Rafael da Karasu Killer, ao Mozine da Laja Records, ao Shamil da Balboa Discos, ao Juberto da Rock Mutante Discos, ao Felipe da Kafaca Discos que sem vocês o cd jamais sairia e a toda galera que nos acompanha em shows e que de alguma forma é integrante da banda, seja pela amizade, seja pela força dada nesses quase 2 anos de vida do Nerds Attack!. Quem quiser conhecer a banda, temos os seguintes meios de divulgação: www.myspace.com/nerdsattackfast / www.purevolume.com/nerdsattack e www.fotolog.net/nerdsattack ou através do e-mail nerdsattack@hotmail.com