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Entrevista: Leonardo Panço (Jason)
por Ricardo Tibiu (tibiu@karasukiller.com | www.chiveta.wordpress.com)
Fotos: Carlos Fernando Castro
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº250
05/2008

Hardcore aterrorizante
Com 11 anos em atividade, giros por todo os cantos do Brasil e três turnês pela Europa, os cariocas do Jason acabam de chegar ao seu quarto CD. Gravado entre 2006 e 2007, “Regressão” foi lançado no ano passado em uma parceria entre aos selos brasileiros Tamborete Entertainment e Ant-Discos e o alemão Horror Business Records. A música do Jason varia entre o hardcore e o metal, tendo riffs crus, inflexões vocais e até algumas experimentações. Conversamos com o guitarrista Leonardo Panço, que também mantém o selo Tamborete Entertainment, para apresentar ao público japonês esta banda homônima ao personagem do Sexta-Feira 13 - é o hardcore aterrorizando!

Dê uma definição rápida e precisa do som do Jason para os japoneses entenderem qual é a de vocês.
Precisa é difícil, mas diria que já fomos uma banda de hardcore e hoje o hardcore é só mais um dos elementos, mas sempre está por ali, no rock e no metal, sempre tentando fugir de letras óbvias sobre políticos, sistema, essa coisa tão pobre artisticamente.

Quais são as principais influências da banda?
Liberdade, Kerouac, Bukowski, Dogma 95, melodias legais, berros que te fazem desmaiar, guitarras querendo ser as do Dimebag sem conseguir, Marshall, distorção, punks brasileiros dos anos 80, metaleiros malvados em geral.

Vocês cantam em português, dê uma idéia aos japoneses sobre o quê vocês falam nas letras.
Morte, angústia, suicídio, pretensões, ironia, falácia, arrogância.

O Jason já fez duas turnês pela Europa, correto? Quando foram e você tem idéia de quantos shows fizeram e por quantos países passaram?
Errado. Fizemos três. Vamos ver se a memória está em dia: em 2001 foram 62 shows em 12 países; em 2003, 26 em quatro países e 2006 foram 38 concertos em quatro países novamente. Acho que 14 países no total.

Quais você considera os shows mais importantes que fizeram até hoje?
Difícil, hein. Os mais importantes são quando todos os quesitos se completam, o que é muito difícil. Som bom, astral leve entre nós, público animado. Na maior parte das vezes, um dos três não vai bem, sendo que os mais importantes são os dois primeiros. Tem vários shows que na definição mais óbvia foram importantes, como o show com o Planet Hemp, em Salvador, com 5.000 pessoas, todos os shows na Paraíba, em Maceió e Natal. Quase todos os shows das outras cidades do Nordeste, muito poucos lá não são bons. Estamos numa boa fase atualmente, sem quaisquer pretensões, tudo muito leve, cada um com a sua Itaipava, Gibson SG no talo. Tá saudável.

Você, como dono de selo, como vê o mercado fonográfico hoje em dia? Vê muita diferença com, por exemplo, o europeu?
Na Europa as coisas são mais fáceis porque a economia ajuda, quase todo mundo pode comprar um disquinho depois dos shows de rock. Aqui no Brasil nem sempre o cara tem dinheiro pra pegar um ônibus pra poder ir no show, então é mais complicado. Eu, infelizmente, tenho lançado quase nada. Foram apenas dois discos em 2007 e em 2008 tem um só planejado e espero que saia algum livro meu. Não mais.

Vocês colocaram “Odeia Eu” (1998), “Eu Sou Quase Fãs de Mim Mesmo” (2000) e “Eu, Tu, Denis” (2002), que são os três primeiros discos do Jason, para download gratuito no TramaVirtual. Você acha que a internet é uma aliada ou uma inimiga das bandas independentes?
A gente colocou os três discos lá pela promessa de que iríamos receber dinheiro por isso. Minha vontade é vender os CDs que ainda tenho em casa, claro. Mas quando eles acabarem, não tem mais qualquer motivo para eles serem relançados, já que todo mundo tá baixando. Acho que é uma aliada. Todos do Jason baixam músicas, então não dá pra reclamar de baixarem as nossas. Eu quero vender CDs, porque gastei muito dinheiro, mas...

Segundo o encarte de “Regressão”, nesse disco o Jason foi Leonardo Panço (guitarra), David David (baixo), Marcelo de Souza (bateria), FF (letras) e Vital (voz). A banda está em uma constante troca de membros, por quê isso?
Na verdade a gente não trocou tanto assim de membros. O que acontece é que praticamente em cada turnê, alguém não podia ir e era preciso substituir, o que é muito ruim. Mas oficialmente nos discos, não foi tanta gente assim. Colocamos assim no disco, “foi”, porque realmente não se sabe do amanhã.

Vocês têm projetos paralelos ao Jason?
David toca no Os Abreus e em mais 20 bandas sempre que convidam ele. O Marcelo já esteve numas cinco ao mesmo tempo, mas agora toca só Jason mesmo. Eu só toco no Jason também. Faço shows no Iguanas como segunda guitarra, mas não sou da banda e no Halé [Nota do Redator: cujo CD “Lixo Extraordinário” foi lançado no Japão pela Karasu Killer Records] eu substituo o Herbert quando ele tem que trabalhar, mas também não sou do conjunto.

Na sua opinião, quem são os destaques da nova safra de bandas punk/hardcore no Brasil?
Da nova safra tô bem por fora, já ficando tio, sabe? Que não tem paciência pra ir em todos os shows mais. No Rio de Janeiro tem o Ataque Periférico, Confronto, Disgrama, mas acho que eles não são tão jovens assim.

O Jason existe há 11 anos, mas antes disso vocês já eram envolvidos com o underground brasileiro, certo? Quais são as principais diferenças de quando começou para agora?
Minha primeira banda data de 88, mas considero mais de 91, 92 pra cá. Mudou muitão, né? Mas ainda muitos anos-luz dos gringos. O Brasil é um país novo, ainda temos que evoluir. Todas as bandas terem seu próprio equipamento, serem mais bem tratadas nos shows, receberem comida como está começando a acontecer na Minor House, de Porto Alegre, parece que no Espaço Impróprio, em São Paulo, também, como é nos squats gringos, cerveja liberada. O equipamento ainda não é o ideal, mas quando comecei se o cara tinha uma Fender, todo o bairro comentava, era tipo um acontecimento. Hoje eu tenho uma Gibson, comecei com uma Jennifer. Nome legal, mas um pedaço de pau ruim. A internet é uma evolução, mas ainda há muito caminho por aí.

Em 2005, você lançou pela Tamborete o livro “Jason - 2001, Uma Odisséia na Europa” sobre a primeira turnê da banda pela Europa. De onde veio a idéia de lançá-lo? Você pretende lançar/escrever outros livros?
O livro foi escrito durante os 80 dias da tour gringa em 2001, conforme ia tudo acontecendo. Ele só foi lançado em 2005 por conta daquelas velhas questões do underground, (in)dependente de ter que escanear tudo sozinho, pedir aos amigos para fazer capa, diagramar, revisar. Custou muito caro e eu banquei tudão, então levou um tempo pra juntar o dinheiro. Sempre quis lançar um livro, acho que pelo ego mesmo, aprendi a ler com três anos em casa com uma tia, então todo mundo conta que eu ia com um monte de livros pros lugares, festas e deve ter vindo daí, né. Queria que fosse algo tipo o “On The Road”, do Jack Kerouac com o “Get In The Van - On The Road With Black Flag”, do Henry Rollins. Passar 80 dias viajando por 13 países (não tocamos na Suécia, mas fomos lá), era obviamente um livro, teríamos sempre o inesperado, as surpresas, tudo novidade, sempre. Eu tenho mais três livros escritos, mas não sei quando saem por questões de que custa vários mil reais lançar, mas um dia acho que verão a luz do dia sim.

Além do Godzilla, o que você conhece do Japão? Alguma banda?
Quase nada. O óbvio que um ocidental ignorante sabe. Gostava muito do Spectroman, Dr. Gore. Tem a The 5.6.7.8's, uma banda de meninas, muito boa. Aquela que veio ao Brasil com o Autoramas, o Guitar Wolf, acho horrorosa, muito chata. Ouvi as histórias do Mukeka di Rato, do Detonautas, da Pitty, gostaria muito de ir ao Japão, mas sei lá, além de ser caro demais, tenho cada vez mais medo de avião. Toda vez que ando de avião, tenho mais medo que da vez anterior, então ficar 24 horas dentro de um lance voando, sei lá.

Quais os próximos planos da banda?
Gravamos dois clipes há três domingos atrás e vamos gravar mais um no dia 28 num show cheião com o Detonautas. Vai estar cheião por eles, né?! Por hora terminar esses três clipes já é uma bela de uma tarefa difícil. Existe a vontade de fazer um documentário com tudo que temos, pelos 11 anos por aí, que pelo visto sai quando já tivermos 15. E ao que tudo indica em 2008 vamos tocar só por pertinho mesmo, já que geral tá trabalhando, um estudando, tá difícil de viajar. Temos cinco shows no Rio de Janeiro e nunca tocamos tanto assim aqui. Já chegamos a não tocar nem uma única vez na capital em um ano, quase dois. Então ter cinco shows aqui em ótimos lugares (Lona de Realengo, Cine Lapa, Áudio Rebel e Elam) é muito raro. Aproveitem!

Deixe uma mensagem para os japoneses!
Ganhei um colírio de um amigo australiano vindo de Tóquio, que é tipo colocar Red Bull na córnea, pra ficar acordado. Muito legal. Inventem mais coisas assim e me mandem um lap top ultrapassado que iria para o lixo pelo correio. Arigatô.

Contatos:
www.myspace.com/jasonbrasil
www.fotolog.com/jas0n
www.myspace.com/tamborete