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Entrevista: D.E.R.
por Rafael Karasu (rafael@karasukiller.com)
Fotos: Daigo Oliva
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº248
03/2008

D.E.R.
Old School Grindcore insano, vindos diretamente de São Paulo, Brasil, a banda vem desde 1997 despejando sua raiva. Todos os membros contam um pouco da história da banda para os leitores japoneses.

1-D.E.R como estão?
Thiago: Tudo certo e por ai?
Renato: Estamos indo...
Feliz: beleza!
Barata: Ahola!

2-Apresentem aos japoneses quem são o D.E.R hoje em dia.
Hoje somos: Thiago no vocal, Feliz no baixo, Barata na bateria e Renato na Guitarra.

3-Fale um pouco da história da banda, discografia, primeiros shows. E qual é o significado do nome?
Thiago:
Começamos no final de 1997 e começo de 1998, na época eu participava de um projeto autogestionário de inclusão social para garotos pobres da periferia onde eu morava, lá conheci diversas pessoas que tinham o mesmo pensamento, a mesma revolta. Estava todo mundo fodido e tínhamos uma vontade de destruir tudo... Ai acabamos conhecendo o pessoal do movimento punk, gangues, brigas, bebedeiras, aquela loucura. Apesar disso os punks ajudavam participando do projeto, então acabamos nos juntando e formando a banda. Começamos tocando punk 80´s, algo que lembra as bandas brasileiras dos anos 80´s, Cólera, Ratos de Porão e Olho Seco. Lembro que nosso primeiro show foi em cima de uma carroceria de caminhão em um festival que rolou no capão redondo em São Paulo, a banda nessa época chamavasse desordem e regresso, e por isso hoje por vários motivos usamos a sigla D.E.R., e a partir daí começamos a tocar nos bares que rolava som punk, fazíamos o mesmo circuito que toda banda punk fazia na época... E faz até hoje. O registro que temos dessa época é uma demo ensaio, onde eu tocava bateria! E o que temos de registro do começo da banda até hoje é:
2007/2008 - Quando a esperança desaba CD
2004/2005 - Split w/ Morte Asceta LP/CD
2003 - V/A - Hardcore vs Grindcore - K7
2002 - Demo ensaio - K7
1999 - Demo ensaio - K7.

4-D.E.R Old School Grindcore, comente sobre influências.
Thiago:
Cara, o grindcore pra gente veio como algo natural, começamos ouvindo punk rock saca? E com o tempo fomos ligando as coisas e conhecendo mais sobre o estilo e quando vimos estávamos tocando grind! O que foi essencial pra gente foi o Assuck, Napalm Death, Carcass, Repulsion, Brutal Truth, no Brasil: Rot e Parental Advisory. Essas foram as bandas que nos influenciaram dentro do estilo grindcore mas, temos influência de outros estilos posso citar Infest, Dropdead, Ripcord, Abuso Sonoro, Discharge, Cannibal Corpse, DRI, Motorhead, Gauze, Suffocation, Bathory, No violence, Darkthrone, Eyehategod, Slayer., caralho! Muita coisa.

5-Todos os membros da banda têm trabalho ou vivem de música? Qual é a maior dificuldade de se ter uma banda no Brasil?
Thiago: Eu trabalho com desenvolvimento de design para web e tenho o selo Cospe Fogo Gravações, o Feliz trabalha como suporte técnico em uma empresa de tv paga, o Renato teve um estúdio de tatuagem mas faliu e o Barata toca no Sick Terror. Acho que nunca cogitamos sobre viver de música aqui no Brasil, posso dizer que é impossível fazer isso aqui tocando Grindcore. Cara temos tantas dificuldades! Temos problemas com equipamentos que são de média qualidade e equipamento bom custa muito caro, distância muito grande entre os estados impossibilitando de se pensar em uma turnê no país inteiro, por exemplo o custo de uma turnê pelo Norte/Nordeste do pais fica quase igual ao custo de uma turnê pela Europa! Passagens caras, estradas ruins, gasolina cara! E o pior que não temos uma renda sustentável para manter as bandas tocando, os shows não conseguem bancar os custos, ou você paga a casa do show ou paga a banda, ou paga a banda ou o aluguel do equipamento, é uma loucura!

6-O que podemos esperar do novo disco “Quando a esperança desaba”? Ffale para nós sobre esse novo trabalho do D.E.R. que será lançado no Japão em 2008.
Renato: depois dos problemas, como demora, e preparação, quando a esperança desaba, mostra diretamente, pra ser mais exato é o reflexo de como a banda esta amadurecendo.
Thiago: Esse disco é o nosso Debut então temos um carinho especial por ele. Quem cuidou da produção do disco foi o Bernardo (are you god?) ele trabalhou com agente na gravação do split com Morte Asceta então ele já sabia a pegada que nós tínhamos. È um disco ácido, bruto e desesperanço, são 16 músicas em menos de 14 minutos! Gravamos esse disco duas vezes! (Risos), na primeira o rolo da fita deu pau e as músicas iam perdendo velocidade quando chegavam perto do final as músicas estavam lentas, parecia uma banda de slugde (risos), e o pior que descobrimos esse problema meses depois quando fomos fazer a mixagem do disco. Depois disso voltamos novamente pro estúdio para fazer tudo de novo, foi foda, mas no final ficamos satisfeitos, tivemos uma segunda chance para fazer melhor (risos) e fizemos.
Feliz: Gosto de pensar que a cada música que fazemos vai ficando cada vez mais pesado, mais denso, acho que estamos ficando mais Metal! (Risos)

7-Do que se tratam os temas abordados em suas letras? Como é o processo de composição?
Thiago:
Tratamos de temas que vivemos ou sentimos, essa vida moderna é uma merda, muita informação, muita cobrança, muita pressão saca? Da vontade de sair matando meio mundo, você deve sentir essa vontade também. Tentamos passar isso nas letras, falamos sobre o trabalho que nos escraviza e nos vende, do deus que nos castiga e oprime, da mulher que é abusada e tratada como objeto, da luta de classes e de como a vida humana às vezes é uma tortura. Geralmente o processo vem a partir de um assunto que tenho na cabeça e tento criar um cenário e a partir daí colocar no papel.

8- E sobre os shows? Como é a receptividade do público Com quais bandas vocês dividiram o palco? Vocês já tiveram algum atrito com os radicais da cena?
Thiago:
O pessoal gosta do que vê, os shows geralmente são agitados, às vezes conseguimos deixar algumas pessoas chocadas (risos), tentamos fazer um show sem intervalos, 30 minutos de blast beats!
Cara nunca tivemos atritos com radicais de cena, tocamos para todo mundo! somos amigos de todo mundo, tocamos para anarcopunks, headbangers, thrashers, punk gangue e straightedges, todos nos convidam para tocar. No Brasil as cenas estão interligadas de alguma maneira.
Já dividimos palco com grandes bandas nacionais como o Ratos de Porão, Necromancia, Violator, Mukeka di Rato, Point of no Return, Confronto, Ulster, Life is a Lie, No Violence, Armagedon, Lobotomia, DFC, ROT, Abuso Sonoro, I Shot Cyrus, Bandanos e coma s gringas: Sin Dios, Napalm Death, See you in hell, Riistetyt, Hellshock, Highscore, Cochebomba, Vitamin X, Rompeprop, Isacaarum, Cathode e Idiot Savant, deve ter alguma outra mas não estou lembrado.

9-Vocês se consideram um grupo grindcore? Sentem-se à vontade ao serem rotulados dessa forma?
Thiago:
Somos uma banda punk que toca grindcore, assim me sinto mais à vontade.
Renato: A minha única preocupação é ter a certeza que saibam que somos uma banda punk!! Mas temos a liberdade de fazer o que gostamos, e isso é ótimo.

10-As bandas de grindcore no brasil têm uma boa produção, existem muitas bandas realizando esse tipo de sonoridade? organizando festivais e lançando discos?
Thiago:
Tem bastante banda de grindcore por aqui, tem bandas com bastante influência de grind mas não são bandas que tocam somente grindcore, tem muita gente fazendo coisas fodas por aqui! Sempre tem um disco novo na praça, um festival ou turnê pra rolar.

11-Qual é a opinião de vocês sobre a cena punk/hardcore de São Paulo e do Brasil em geral? Penso que todas englobam o espírito DIY.
Thiago:
Sim, a maioria pensa de maneira DIY mas como em todo lugar existem os oportunistas, mas em geral é uma cena bem agitada sempre tem uma leva de pessoal novo fazendo algo e isso é essencial para que tudo seja renovado.

12-Qual visão que vocês têm sobre viver de música e no que o punk contribuiu com isso?
Thiago:
Se fosse alguns anos atrás eu diria que os caras seriam mercenários ou algo do tipo mas hoje eu trato a música de duas maneiras: a música na forma comercial e a música na forma de arte.
Se o cara ganha dinheiro com a música problema é dele, prefiro ver um cara ganhando dinheiro fazendo shows do que trabalhando para uma multinacional exploradora de mão-de-obra barata.
Eu trato a música como arte, como uma ferramenta de libertação e mudança não posso tratar isso como um trabalho, meu ganha pão, não seria sincero comigo mesmo saca?
Renato: Viver de musica aqui no Brasil, é praticamente uma inverdade, pelo menos enquanto estivermos tocando da forma que tocamos! É difícil, somos o lado b.
Feliz: Claro que viver do que se gosta é uma coisa extraordinária, pórem depende muito, seria ótimo se o punk aqui fosse auto-suficiente.

13-O que os membros da banda ouvem atualmente?
Thiago:
To pirando em Agalloch, Ludicra, Death Breath, Under Pressure, Gorrilla Angreb, Muga, Subtera e to ancioso para ouvir o novo disco do Gauze!
Renato: Ultimamente tenho ouvido Ratos de Porão, Slayer, Motorhead, Cannibal Corpse e Municipal Waste.
Feliz: jazz, anos 70 e 60, metal muito metal e Slayer muito Slayer.
Barata: Creedence Clearwater Revival, Metallica, Exodus, Zeke, Rolling Stones e Sublime Cadaveric Decomposition

14-De 2003 para cá está surgindo uma nova safra de bandas de Grindcore no Brasil. Como vocês enxergam essa renovação? Quais vocês consideram os destaques?
Thiago: Ainda bem que isso acontece! Sangue novo é sempre bom, trazem novas idéias e novo pique para o Grindcore. De destaque tem do sul tem o Deranged Insane, Facada, Maharishi e Inrisorio do nordeste, Lastima do Rio de Janeiro, Forbidden Ideas e Dispepsiaa de São Paulo, tem mais um monte fazendo coisas boas.

15-O que vocês seriam caso não existisse o punk/hardcore em suas vidas?
Thiago:
Seria um bosta. Um rapaz comum com uma vida chata.
Renato: Nunca pensei nisso, não quero nem imaginar, o punk me fez mudar a concepção de caráter, de dignidade, de respeito de amor próprio, me fez ser quem eu sou, livre, feliz, apesar dos pesares, me deu força pra lutar e seguir adiante, me fez enxergar a verdade e ser verdadeiro!!
Feliz: Um bosta!
Barata: Não sei o que eu seria, mas com certeza eu teria dinheiro (Risos)

16- Além de comandar os vocais do D.E.R. você têm o selo Cospe Fogo Gravações, comente sobre o selo, como é seu trabalho com as bandas.
Thiago:
A Cospe Fogo Gravações existe desde o começo dos anos 90 e era propriedade do Ruy Fernando (No Violence), no começo de 2002 o Ruy estava muito ocupado com a vida profissional dele e pra não deixar o selo morrer me pediu para ajudar tocar o selo, meses depois ele me passou o selo com todos os materiais já lançado, acho que foi o melhor presente que ganhei na vida! (Risos). Desde então tenho tentando dar um gás no selo lançando bandas novas e explorando novos formatos como os lançamentos de livros. Trabalho de maneira sincera e transparente com as bandas, faz somente o que consigo realmente fazer, até hoje as bandas parecem ficar satisfeitas com o trabalho e isso é positivo! Já temos novos projetos para 2008! Um livro e uma banda de Death Metal do Brasil! Estou empolgando para 2008.

17- Cada vez mais se fala da corrupção, violência e desemprego no Brasil, que futuro você vê para o país?
Thiago:
O pior possível! Quem é pobre continuará pobre e se fudendo pra viver e quem é rico vai ficar cada vez mais rico, a história do Brasil sempre foi assim e não vejo um futuro de melhorias.

18- Como é viver nessa Selva de Pedra que é São Paulo?
Thiago:
Acabamos nos acostumando a viver nesse caos, é como qualquer cidade gigante do mundo, vários problemas. Hoje São Paulo é administrada por um Prefeito louco de direita que tem mania de limpeza, quer sumir com as pessoas que trabalham na rua com comércio informal entre outras coisas.

19-Seria muito bom um dia ter a banda para uma tour no Japão, você acha que há possibilidade?
Thiago:
Existe sim, é algo difícil mas se a gente se organizar direito pode rolar, seria um sonho! Se acontecer isso podemos acabar com a banda em seguida! (risos)

20- Sei que você é um grande apreciador da comida japonesa!Comente sobre o que você conhece do Japão? O que você admira nesse país?
Thiago:
Sempre pirei no Japão desde moleque, quando pequeno minha mãe dizia que se agente cavasse muito fundo chegaríamos no Japão (por ser abaixo do Brasil) e toda vez que eu fazia um buraco na areia ou no chão eu achava que ia chegar ou ia sair um japonês do buraco (risos).
Gosto dos filmes de terror, do design japonês, dos desenhos, mas o que mais gosto é a música e a gastronomia. Na música eu e meus amigos sempre dizemos “se a banda vem do Japão pode escutar que a coisa é boa”, só conheço banda boa daí! Vamos falar sobre comida (risos): vocês tem a melhor culinária do mundo, toda semana que como algo japonês, ontem mesmo eu comi Kapamaki e Temaki de shimeji (risos).

21-O que vocês conhecem sobre a cena Punk/Hc japonesa? Que bandas vocês mais gostam e o que impressiona nelas?
Pelo que vemos é uma cena bem grande e parece ter uma funcionalidade e organização legal. O que impressiona é a energia e a sinceridade das bandas, quando assistimos o show do Gauze pelo youtube e ficamos espantados, é perfeito, não precisa de mais nada! Gostamos do Gauze,GISM , DSB, Battle of Disarm, Bastard, DISCLOSE, Corrupted, Exclaim, Flash Gordon, Forward, Fuck on the Beach, G-anx, Gouka, Jellyroll Rockheads, Lipcream, Nightmare, Paintbox, Real Reggae, SxOxB, Vivisick, Death Side e 324.

22-Deixe sua mensagem para os leitores japoneses da Doll Magazine.
Gostaríamos de agradecer o pessoal da Doll e nossos amigos Japoneses! Muito amor pra vocês! Esperamos que um dia possamos nos encontrar e esperamos um dia poder ver o show do Gauze ao vivo (Risos). Muito amor.

Links relacionados:
www.myspace.com/derpunk
www.cospefogo.com