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Entrevista: Cü Sujo
por Rafael Karasu (rafael@karasukiller.com)
Fotos: Tais B -Juba
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº256
11/2008

Apresentamos o Cü Sujo, banda de “rock” vinda de Lajeado, Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. Entrevistamos o vocalista Guilherme e o guitarrista Zeh, que contam um pouco dos 7 anos de história da banda. Confira!

1-Começaremos pelo clichê de sempre, como estão todos vocês membros do CÜ SUJO?
Guilherme - Estamos todos bem, melhor ainda em poder participar da Doll Magazine. Obrigado pelo convite, Rafa.

2-De onde vem esse nome Cü Sujo, expliquem!
Guilherme
- Existem duas versões para o nome da banda...
Zeh - ... a primeira delas é que quando eu morava em Santa Maria, eu e um amigo tínhamos um gato e apelidamos ele de Cu Sujo...
Guilherme - ... a outra versão é que o Fino, baterista na época, estava sentado na sala de casa quando seu pai chegou e disse “Hey, levante esse cu sujo daí e vá procurar um emprego!”.
Zeh - A banda se formou, estava com o primeiro show marcado e não tinha nome, então, dei a sugestão e o nome pegou, mesmo que sugerido de forma inusitada. A idéia era mesmo causar uma impressão forte, de repulsa ou outra qualquer coisa neste sentido.
Guilherme - Lembro que na época o nome chocou ao ponto de não deixarem nós colarmos cartazes de shows nas ruas, porém com o tempo o pessoal se acostumou.

3-Comente sobre a história da banda como e quando foi formada. O que motivou vocês a formarem a banda?
Zeh
- O que motivou foi o fato de gostarmos de música, sabermos tocar e termos algumas idéias em comum. No início, em dezembro de 2000 ou janeiro de 2001, não lembro exatamente, fazíamos apenas covers, queríamos mesmo era tocar bandas que curtíamos. Quando estávamos começando a compor nossas canções próprias, a banda parou e nem ao menos me lembro o motivo. Foram poucos meses de atividade.
Guilherme - Eu não fazia parte da primeira formação, morava em outra cidade da mesma região e conhecia o pessoal dos gig's e roles. Em 2002 me mudei para Lajeado e lá sempre encontrava o Fino bêbado e ele me chamava para fazer um som: “Cara, precisamos fazer um som... chamar o Zeh para tocar... Cü Sujo é o nome, precisa acontecer!!!”. Então o Zeh chamou o Secão para tocar baixo e estava formada novamente a banda, só que desta fez o objetivo era produzir um trabalho próprio, expor nossos sentimentos e relatar nosso cotidiano.
Tivemos várias paradas e mudanças na formação, mas nos mantemos ativos até hoje com Guilherme no vocal, Zeh na guitarra e vocal, Seco no baixo e Horn na bateria.

4-Todos os membros da banda têm trabalho ou vivem de música?
Guilherme
- Ninguém vive ou pretende viver de música com a Cü Sujo, para nós ela é uma forma de arte com a qual expressamos nossos sentimentos. Se quiséssemos viver de música, mudaríamos nosso nome e estilo de som.
Todos trabalhamos: eu sou publicitário e jornalista; o Zeh é professor de história e pesquisador; o Seco é químico industrial; o Horn trabalha com serviços gráficos. Todos nós também estudamos.

5-O que os membros da banda ouvem atualmente?
Guilherme
- Eu escuto de tudo, depende muito do meu humor... tenho ouvido muito samba, bossa nova, reggae e crust; Secão escuta bastante metal e hardrock 70's; o Horn prefere trash punk e crossover; o Zeh tem escutado algumas bandas indie e post-rock. É essa mistura doida que faz o nosso som acontecer.

6-O que significa o punk/hardcore em suas vidas? Vocês se consideram uma banda punk/hardcore tanto sonoridade quanto na postura?
Guilherme
- Não nos consideramos uma banda punk/hardcore, mas nos identificamos com algumas idéias como o “Do It Yourself” e também com a sonoridade. Pertencer a um determinado grupo ou seguir uma determinada ideologia pode te limitar em vários sentidos. Não queremos limitações, queremos liberdade de idéias e sonoridade para nos expressarmos, modo de vestir, o que comer...
O punk/hardcore significou muito em nossas vidas, com ele aprendemos a ver o mundo de outra maneira. Foi dentro do punk/hardcore que conhecemos as melhores e as piores pessoas de nossas vidas, onde fizemos grandes amizades.
Se não tivéssemos vivenciado o punk/hardcore, certamente não estaríamos aqui hoje dando esta entrevista.

7-Comentem sobre os materiais lançados pela banda e o próximo lançamento , um split CD com o Agathocles!
Guilherme
- Nosso primeiro lançamento foi em 2003 com a Abravanel e é uma tape chamada “Split Maldito” que rendeu participação em algumas coletâneas e foi relançado em CD dois anos depois com alguns bônus; 2005 saiu o EP “Tudo Menos Partir a Bebe”; como ficamos muito tempo sem gravar nada, em 2007 um amigo da Argentina lançou o CD “Discografia Completa 2003-2007” por lá; neste ano já saiu um v/a tape chamado “8 Ways... The Same Destination” com bandas de vários lugares do Brasil e distribuição na Argentina e Estados Unidos, onde participamos com três canções; recentemente lançamos um EP em disquete e um split com o Hit Me Back que foi lançado aqui no Brasil, na Argentina e em Portugal. O nosso próximo lançamento é um split com o mestres do barulho: Agathocles. O disco está prestes a ser lançado e vai ser distribuído aí no Japão. Em 2009 queremos lançar nosso primeiro full-lenght.

8-Uma vez um amigo japonês foi para o Rio Grande do Sul e me disse que não viu nenhum doido da cena local. Vocês são a primeira banda do Sul que eu entrevisto aqui, comente sobre a cena por ai.
Zeh
- Muitas vezes já tentei pensar o que significa “cena”, acho que as pessoas se referem a cena de forma muito generalizante, cena/cenário. Eu definiria a “cena” daqui como: um teatro com muitos atores, mas com textos diferentes. Por um lado, considero isso muito bom, por outro, acaba enfraquecendo a capacidade de se organizarem eventos e tudo mais...
Guilherme - A cena gaúcha vem perdendo muita força de alguns anos para cá, pois está cada vez mais desunida, muitas divisões de grupos e idéias. Paralelo a isso, grupos neonazistas e nacionalistas veêm se fortalecendo e causando medo e pânico na população; principalmente negros, nordestinos, gays, judeus e punks. Eu não sei ao certo o porque de tudo isso, mas acredito que seja pelo fato de nossa região possuir muitos imigrantes europeus que fugiram da Guerra na metade do século passado.
Por estas e outras razões, é muito difícil você encontrar indivíduos da cena andando sozinho pelas ruas... eles preferem se reunir em squatts ou casas de amigos para preservar suas vidas. Quando você os vê pelas ruas, é geralmente em grupo e se deslocando para algum lugar.

9-Como vocês vêem a atual cena brasileira? Quais bandas vocês costumam ouvir da cena hoje em dia?
Guilherme
- A cena brasileira sempre foi muito forte em São Paulo, aqui no Sul já teve dias melhores. Parece que no Nordeste está muito boa e alguns estados do Centro-Oeste e do Norte também. Mantemos contato com pessoas de vários lugares através de correspondências e internet, desta forma estamos a par de tudo o que anda acontecendo no país.
Apesar de existir bandas muito boas na cena brasileira, não temos o costume de escutá-las.

10-As músicas são cantadas em português, explique o conteúdo das letras do Cü Sujo. Como é o processo de composição?
Guilherme
- Nossas composições não seguem nenhuma regra específica, mas geralmente alguém chega com alguma base pronta e todos juntos criam em cima.
A maioria das letras é minha ou do Zeh e elas refletem nosso cotidiano. Não propomos nenhum tipo de revolução ou mudança no mundo, deixamos isso para os outros.
Zeh - A gente mistura as idéias e vai vendo no que dá. Quando eu faço uma letra penso na subjetividade que ela possa alcançar, não ser interpretada só de uma forma...

11-Cada vez mais se fala da corrupção, violência e desemprego no Brasil, que futuro você vê para o país? Penso que no Sul não é diferente!
Zeh
- Não, não é diferente. O futuro que vejo para o país, e é o que está acontecendo até então com o governo Lula, é ele ir se aliando cada vez mais e melhor a agenda capitalista mundial, com todos os prós e contras que tal projeto tem a oferecer e que podem surtir num país como o nosso. A questão é discutir se esse é um projeto válido. Eu considero que não, e sou a favor da destruição de todos bens simbólicos criados por ele.

12-O que você conhece do Japan? O que você admira nesse país?
Zeh
- Não conheço muito, alguns pontos turísticos. Admiro o uniforme de colegial e a comida. No mais referente ao seu sucesso econômico...
Guilherme - ... cabelos loucos e coloridos, Jaspion, Cavaleiros do Zodíaco, Nintendo, ótimas bandas de hardcore, artes marciais, samurais treinando em meio a taquareiras, comida a base de peixe cru e arroz, moradias compactas, novas tecnologias, trem bala, matança de animais marinho, ... Aqui no Sul do Brasil tinha um canal de televisão que passava documentários sobre o Japão e eu adorava assistir, lembro que um deles falou certa vez sobre uma ilha que existe aí no Sul do Japão onde as ruas são de areia e os muros das casas são de cercas vivas... achei aquilo muito lindo, me deu vontade de morar ai. Ouvi dizer que as pessoas ai são muito educadas.

13-Que bandas japonesas você conhece? O que mais te impressiona nas bandas japonesas?
Guilherme
- S.O.B., Disclose, Fuck On The Beach, The Jaguars, Romantic Gorilla, Toe, Vivisick, Carcass Grinder, The Youngers, Battle Of Disarm, Guitar Wolf, Unholy Grave, Flash Gordon, Bug Sneakers, N.E.K., Automatics, Vertical, Beyond Description, ... são as primeiras que me vieram em mente.
Me impressiona muito a qualidade e também o modo que algumas bandas punks daí consegue trabalhar com a postura política e outras de forma mais escachadas. Olhando de fora, tenho a impressão que rola um respeito mutuo entre todas, posso estar enganado...

14-Deixe a mensagem do Cü Sujo para os leitores japoneses.
Zeh
- Saúde e boa sorte! Queremos tocar aí e conhecer melhor o Japão.
Guilherme - Agradeço a todos pela a atenção e em especial ao Rafael pela oportunidade da entrevista. Os que tiverem interesse em conhecer melhor nosso trabalho, peço que entrem em contato conosco. Saúde e paz a todos!

Contacts:
www.myspace.com/cusujo
toscotilldeath@hotmail.com