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Entrevista: Alarme
por Rafael Karasu (rafael@karasukiller.com)

Foto: Mateus Mondini

originalmente publicado no EL ZINE (Japan) Cross the border Vol.0
2009/11

Alarme

1-Alarme como vocês estão?
Angu:
Hey Rafael, estamos bem cara. Fizemos alguns shows/tours recentemente.... Estamos na nossa correria aqui.
Pato: Bem. Tocando, trabalhando, estudando... Enfim, tentando agilizar as coisas por aqui.

2-Dê uma definição rápida e precisa do som da banda para os japoneses entenderem qual é a idéia de vocês.
Angu:
Hardcore rápido, pesado, barulhento e direto.
Pato: Hardcore ao extremo... é difícil dar uma definição rápida assim da sua banda, principalmente quando tem várias influências, mas acho que é isso. Agente quer tocar hardcore igual faziam bem antigamente, cru e rápido, cheio de energia, raiva e paixão.

3-Quem são no Alarme hoje em dia? Comente sobre a história ,como e quando foi formada. O que motivou vocês a formarem a banda?
Angu:
O Alarme surgiu em meados de 2005. Eu, Pato e Léo tínhamos uma outra banda e já nos conhecíamos a tempo. Essa banda acabou e com o passar do tempo, quisemos montar outra, já que nos conhecíamos há um tempo e tínhamos gostos/ pensamentos bem semelhantes. Assim, no inicio, éramos nós 3 e tentamos fazer um som meio semelhante a Discarga, Exclain e bandas desse tipo. Mas não gostamos muito do resultado, então rapidamente, entrou o Bruno (que é irmão do pato) e assim vimos a possibilidade de fazer algo numa linha mais Ripcord, Heresy, que sempre gostamos. Então desde o inicio a formação é Angu- vocal, Pato-Guitarra, Léo-bateria e Bruno- baixo.
Pato: Somos eu (Pato) na guitarra, Angu no vocal, Bruno (meu irmão) no baixo e Léo na bateria. Agente já é amigo de tempos, sempre íamos a shows, e depois começamos a organizar shows de outras bandas por aqui e ter contato com gente de fora. Começamos então nossas bandas, que iam evoluindo cada vez mais, até que em meados de 2005 formamos o Alarme. Fomos motivados pelos sons que ouvíamos e a necessidade de falar também, de querer ser ouvidos, de sair das nossas vidas normais, e nada melhor que o punk pra isso, acho.

4-Quais são as principais influências da banda?
Angu:
Acho que primordialmente, Thrash inglês (heresy, Ripcord, intense degree...), Poison Idea, DeathSide, Gauze, Septic Death, WHN?... Mas acho que não só isso. Temos gostos bem variados no que diz respeito ao Punk e a própria musica mesmo, então acho que isso tudo acrescenta na hora de fazer os sons. Em geral gostamos de bandas barulhentas e energéticas, como as dos anos 80 e acho que as coisas fluem um pouco nesse sentido.
Pato: Quando começamos a banda agente queria fazer algo tipo hardcore inglês dos anos 80, Heresy, Ripcord... misturado com o lance do crossover americano, tipo D.R.I. e The Accused. Daí agente tinha referência das bandas da época também, como o WHN? e bandas daqui mesmo do Brasil, tipo o I Shot Cyrus e o RDP já antigo... Depois fomos misturando cada vez mais coisas de hardcore do mundo todo sei lá, principalmente japonês. Quando faço os sons procuro ouvir sempre coisas na mesma linha, mas variadas, tipo Gauze e Anti-Cimex, depois Poison Idea, bandas americanas também, e vou tirando as idéias.

5-O que vocês têm de material lançado até agora?
Angu:
Temos um 7”ep, que se chama “walk together, thrash together”, pela Give praise records (selo americano) o nosso álbum CD, “starving wolves & death machine inc.” lançado no Japão pela Karasu Killer, no Brasil pela Laja, Raw recs e Oxenti records e no Peru pela Solidaridad DIY. Esse álbum vai ter ainda uma versão em vinil na Europa em breve. 

Pato: Temos um 7’’ em vinil pelo selo Give Praise Records dos EUA, chamado “Walk Together, Thrash Together” que saiu acho que no início de 2007 e um full-lenght, “Starving Wolves & Death Machine Inc.”, que saiu em CD aqui no Brasil, no Peru e aí no Japão no começo de 2008 e está pra sair em LP na Europa.

6-O que significa o punk/hardcore em suas vidas? E consideram-se uma banda punk/hardcore tanto na sonoridade como na postura?
Angu:
Eu considero o Punk como musica e postura, os dois juntos. Para nós é algo que vivemos e deu outro rumo para nossas vidas. É através do Punk que fizemos vários amigos, conhecemos lugares e pessoas. A respeito de postura como banda, na minha opinião, é de ser uma banda DIY, e tudo o que fazemos é baseado nisso. Por exemplo,no meio punk conhecemos (nem que seja virtualmente) pessoas que estão dispostas a nos ajudar a fazer várias coisas. É por causa dessas pessoas que é possível lançar discos, viajar pelos lugares... É claro que, para nós, envolvidos, é óbvio enxergar isso, mas quando paro pra pensar, vejo que só é possível através dessa “rede de amigos” que criamos através do punk, do faça-você-mesmo. Uma das coisas que mais valorizamos, como banda é isso, de podermos nos dar esse apoio mutuo sem se basear em lucros ou qualquer outro tipo de status que reproduza essa lógica fria da sociedade de sempre tentar levar vantagem nas coisas. Acho que o punk trouxe para nossas vidas essa noção de apoio mútuo e de amizade que praticamente não existe na sociedade, alem de toda contestação e não-conformismo que aprendemos a desenvolver.
Pato: Com certeza algo que transformou nossas vidas pra muito melhor. Somos de uma cidade industrial do interior, e não teríamos quase nenhuma outra opção a não ser viver basicamente as mesmas vidas que nossos pais e avós viveram. Daí esse contato com as coisas de fora, do que poderíamos alcançar, de que a vida não é só a mediocridade de nascer, trabalhar e morrer. E daí virou um orgulho, quebrar esse gelo saca, saber que podemos ser melhores. Eu não teria feito nem vivido metade das coisas pelas quais já passei se não fosse o punk, e fico muito feliz por isso. E acho que a coisa do hardcore no som também representa a mesma coisa em nossas vidas. Acho que o lance do hardcore é levar as coisas ao extremo dentro do que você consegue e se propõem a fazer (não falo de som extremo e tal, mas tipo levar as coisas ao máximo da energia e do sentimento). Dessa forma isso se reflete em nossas vidas, essa coisa de querer chegar sempre ao limite, pelo menos pra mim.

7-Todos na banda têm um trabalho? Como é conciliar trabalho e shows?
Angu:
O Pato e o Bruno ainda estudam, eu sou professor de artes e o Léo trabalha em uma loja de alimentos. Em geral os shows não atrapalham o trabalho e vice versa, porque primeiro que não rolam muitos shows durante a semana no Brasil. Quando precisamos viajar isso acontece geralmente em um fim de semana, quando não estamos trabalhando. Uma coisa que merece ser dita é que o Brasil é um país muito grande e as distancias entre as cidades são muito longas. Para fazer tours temos que gastar muita grana com transporte e dispor de tempo pra poder ficar viajando. Talvez por isso, as bandas não fazem muitas tours pelo país inteiro, pois as distancias são enormes, os gastos muito grandes.
Pato: Todos trabalham, só meu irmão que só estuda (faculdade) e no momento estou sem trabalhar, adiantando minha faculdade também – dependendo de quando for publicada a matéria já estarei trabalhando de novo. Bom aqui é meio que fácil conciliar o trampo e os shows, visto que os shows só rolam nos fins de semana. O problema é uma turnê. Mas como o trampo de ninguém vai até os fins de semana, nunca dificultou muito. Agente só nunca abre mão de show por causa do trabalho ahaha. Rola de faltar o trampo mas não o show, e do mais, é só tocar e no máximo ter que passar a madrugada viajando pra voltar pra trabalhar na manhã seguinte.

8-As músicas são cantadas em português, explique o conteúdo das letras! Como é o processo de composição?
Angu:
As letras tem a ver com o que eu tava dizendo na pergunta 6, de ter uma maneira DIY de encarar as coisas, de contestar e refletir sobre o que podemos/ fazemos das nossas vidas. Independente de que rumo cada um toma para sua vida, as vezes podemos fazer coisas melhores que aceitar as regras que vem de cima para baixo, dizendo como você tem que agir, pensar... As musicas falam sobre isso, sobre tomar uma atitude em relação as coisas, e que as possibilidades estão em nossas mãos, mesmo que não saibamos o que fazer. Bem naquela “where there´s a will, there´s a way”.
Pato: Bom, quando estamos fazendo som é basicamente assim: já chegamos com os sons todos na cabeça, eu fico em casa me matando às vezes pra encaixar um riff com o outro, e daí no ensaio é só chegar e tirar o som. Agente às vezes fica alguns meses sem ensaiar, porque alguém tá viajando e não está na cidade por algum tempo, mas depois já tentamos agilizar ao máximo, e fica bem rápido compor. No momento e até o fim do ano estamos ensaiando bastante fazendo sons novos.

9-Quais você considera os shows mais importantes que fizeram até hoje?
Angu:
bem difícil falar isso hehehe Tocamos uma vez na verdurada (Um dos maiores, senão o maior evento DIY do Brasil) pra umas 1200 pessoas, com o Vitamin-X, Mukeka di Rato e foi bem foda, não só pelo show, mas por encontrarmos amigos de vários lugares do Brasil que estavam presentes. Houve um show em Angra dos Reis que também estava muito cheio, mas com o publico roqueiro, e eles destruíram o local de tanto agitar hehe É difícil destacar... Em geral gosto dos shows longes, onde podemos conhecer pessoas, lugares diferentes, ver como funcionam as coisas nesses lugares. Recentemente tocamos pelo sul do Brasil que é bem longe de onde moramos e foi uma experiência muito foda!
Pato: É difícil dizer assim viu. Todos os shows que tocamos são sempre bons, a energia parece que flui e sempre todo mundo faz uma festa. Acho que um em São Paulo, em um festival que rola chamado Verdurada, foi o primeiro que marcou mesmo. É tipo o maior festival independente, Do It Yourself do Brasil, rola umas três vezes por ano. A primeira vez que tocamos foi em 2006, com o Vitamin X e o Mukeka Di Rato também. Foi impressionante, tinha umas 1200 pessoas em um lugar que mal cabem 800. Ás vezes não dava nem pra tocar direito, acabou minha guitarra quebrando no meio do show, e foi também das primeiras vezes que nós da banda tivemos a experiência do tipo pessoas invadindo o palco pra cantar as músicas. Foi foda. Desde então acho que todos os shows têm sido nesse nível, não sempre cheios assim, mas sempre insanos.

10-O que você acha que tem de bom e o que tem de ruim na atual fase do underground brasileiro. Existe um apoio?
Angu:
Acho que um lado negativo nas cenas pelo Brasil não é nem tanto pelas cenas em si, mas sim pela dificuldade em fazer as coisas, devido as distancias e os altos custos. É difícil fazer tours, prensar discos pois há pouco retorno e essas coisas dificilmente se sustentam. Vejo que nos outros países (U$A, Europa) as pessoas conseguem fazer as coisas com mais facilidades, sem tantos sacrifícios, que é como deveria ser para todos.... Não existem apoios, para cenas DIY. Bandas que funcionam num esquema “semi- mainstream” ou mainstream conseguem uma estrutura melhor, mas é outra cena, que tem mais a ver com grandes gravadoras essas coisas. Uma coisa legal que vejo que tem acontecido recentemente é que mesmo com essas coisas que atrapalhando, tem acontecido coisas legais como tours de bandas gringas pelo Brasil, bandas brasileiras fazendo tour por outros países.... Talvez em um ritmo lento, mas espero que isso possa se desenvolver mais.
Pato: Cara eu acho que aqui tá num momento foda, som está bastante acessível com internet e tal, então todo mundo conhece várias bandas boas e começa a montar bandas boas também. Acho que de um tempo pra cá as coisas melhoraram bastante, cresceu muito. Bandas como Discarga, I Shot Cyrus, Infect, entre outras, trouxeram uma atenção grande pra cá, abriram as portas pra várias coisas acontecerem e acho que reescreveram a história do punk e hardcore aqui no Brasil. Claro que tiveram várias pessoas fora as bandas, envolvidas, e selos como a Läja e a Peculio que ajudaram tipo levar a mensagem. Os créditos podem não ir só pra eles, mas com certeza foram fundamentais. A cena brasileira nos anos 80 era voltada mais para som europeu, tipo finlandês, escandinavo e inglês. Hoje é fácil encontrar material de bandas do mundo inteiro, e isso acarretou na ‘explosão’ acho do hardcore/punk brasileiro no mundo, fazendo aqui meio que um circuito pras bandas do mundo todo tocarem também. Dessa forma tem muita gente empenhada pra fazer shows, tem gente que gasta o salário que recebe no trampo pra marcar show pra bandas de outros estados, e gente de bandas que gasta pra tocar, sem problema algum, acho que assim que é né. Já o lado ruim, um principal é o problema geográfico do país. Tudo é muito caro, incluindo transporte, e o Brasil é grande. Isso impossibilita de fazer tipo uma turnê contínua pelo país inteiro, visto que às vezes você tem que viajar 6 ou mais horas pra chegar de uma cidade a outra, tendo ainda o fato de que só rola show nos fins de semana. Então nesse caso fica meio complicado conciliar trampo, estudo com uma turnê tocando somente fins de semana, passando a semana inteira fora.

11-Na sua opinião, quem são os destaques da nova safra de bandas punk/hardcore no Brasil?
Angu:
Existem muitas bandas novas boas. Várias delas são de amigos nossos... Eu destacaria: Velho de Câncer, Renegades of Punk, Fornicators, Regime Tentáculo, Catarro, Possuído Pelo Cão, Low Life, Nerds Atack!, Vivenciar, Sweet Suburbia..... São as que lembro agora que mais gosto.
Pato: Nós também somos dessa nova safra de bandas por aqui, então agente sempre toca e tem várias bandas em shows ou de amigos fodidas. Pra mim, uhm... tem o Busscops, Sweet Suburbia, Regime Tentáculo também que tocamos a pouco tempo e é muito boa, Possuído Pelo Cão.

12-Expliquem para nós quais são os pontos positivos e negativos de viver no Rio de Janeiro.
Angu:
Então, na verdade nós do Alarme somos do interior do estado do rio de janeiro, que fica um pouco distante da capital (rio de janeiro city, que é a 2ª maior cidade do Brasil) então é uma realidade um pouco diferente. Recentemente eu me mudei para a capital e pude sentir isso melhor. É uma cidade muito caótica e as diferenças sociais são muito aparentes. O engraçado é que ao mesmo tempo, é uma cidade que tem lugares muito bonitos como praias, florestas, as pessoas são bem receptivas... No interior não temos tanto caos e miséria como na capital, mas temos pouco acesso a cultura, faculdades e essas coisas. Mas em geral é no Rio, é difícil de arrumar empregos, de ter acesso hospitais, escolas... Acho que no resto do Brasil não é muito diferente (salve algumas exceções), mas no rio essas diferenças são mais visíveis e presentes.
Pato: Bom, a banda não é bem bem do Rio de Janeiro. Somos originalmente do interior do estado, Barra Mansa e Volta Redonda. São cidades vizinhas que ficam a mais ou menos 2 horas da cidade do Rio. Hoje eu mesmo moro meio que em São Paulo (só fico algumas semanas em Volta Redonda para terminar minha faculdade). Já o Angu mora no Rio, então acho que ele pode dizer melhor... Mas com certeza bom não é. Já morei 6 meses lá, quase 5 anos atrás. Nunca tive nenhuma experiência ruim dessas tipo ‘Cidade de Deus’ ou tiroteios e balas perdidas. A coisa que acontecia mais era a polícia me parar direto quando estava voltando da faculdade para revistar e tal. Mas não vou dizer que não é perigoso. O que é foda mesmo são crianças pedindo esmola (isso pode ter em qualquer lugar, mas é uma quantidade inacreditável), e às vezes garotos e garotas de no máximo 15 anos, usando drogas, que quando não recebem nada ficam putas e começam a querer te intimidar, entre outras coisas. Agora quando é com estrageiros a coisa é diferente... um amigo mesmo nosso da Alamenha, alguns meses atrás foi assaltado e levaram câmera de fotos e tal. Bom, pontos positivos... uhm, a Zona Sul da cidade, onde ficam as praias e todos os pontos turísticos é muito bonita, mas pra mim não deu, fiquei alguns meses e saí fora.

13-Cada vez mais se fala da corrupção, violência e desemprego no Brasil, que futuro você vê para o país?
Angu:
É verdade, acho que esses assuntos repercutem bastante, havendo até, as vezes, um certo sensacionalismo por parte da mídia. Eu não sei direito como explicar isso para vocês ae no Japão, que devem viver uma realidade bem diferente. É fato que há muita corrupção por parte das autoridades brasileiras em geral, que o desemprego, a violência, os problemas sociais e econômicos vem crescendo e não sei como isso vai acabar. Acho que estamos bem longe de mudar essas coisas....
Pato: Puta cara, essa acho que é a parte crítica da entrevista. Eu vou dar o ponto de vista de quem anda bem pela rua, tendo que pegar busão, trem lotado direto (mas na maioria das vezes mesmo só ando de bicicleta, quando dá, o que é meio difícil em São Paulo). Bom mas é assim: têm vezes que só dá vontade de sair daqui, tipo largar tudo e tentar arrumar uma vida melhor. O povo é explorado, mas a maioria não tá nem aí, quer saber da novela na TV a noite ou às vezes nem tem energia mesmo pra pensar em outras coisas a não ser no sustento da família. E aí o cara tá passando fome, cansado no trem às 9 da noite, tendo que viajar 2 hrs em pé pra chegar em casa e se você vai falar alguma coisa do tipo ‘nós temos que melhorar isso, deve ter algum jeito de todos ficarem bem’, você provavelmente vai ouvir ‘você fala isso porque estudou, tem condições, queria ver se tivesse no meu lugar o que ia fazer a não ser trabalhar pra sobreviver’. Saca, na história do país, nunca houve ninguém importante com uma mente crítica, tipo revolucionário. Nunca houve nenhum movimento acessível ou que atingiu todo o povo, digo os mais pobres. A classe média reinvidica a Democracia em que o país se encontra hoje para eles pois foram eles quem foram para as ruas 20 anos atrás derrubar a Ditadura Militar que governava o país antes, mas foda-se porque são eles (a classe média e alta) quem mandam mesmo. E a classe média e alta aqui é bastante Conservadora, a única preocupação é que seus filhos tenham carro, fiquem bem e não se misturem ao resto no fim das contas. Daí o país vai pro ralo, ninguém se importa com a corrupção, porque se o dinheiro continuar entrando nas suas casas está bem. As pessoas aqui acham que se fizerem só isso, cuidarem da sua própria família já está bom, estão sendo bons, e todo mundo acha que pobreza dos outros e exploração não é problema deles... E lá vai a classe média pra TV fazer essas novelas contanto como tudo é bom no Brasil, contando histórias engraçadas de como somos ‘guerreiros’, mas não guerreiros por lutar, guerreiros por não fazermos porra nenhuma e aguentar viver assim. Tipo corrupção tem em todo o mundo. Só que em algum outro país, quando por exemplo um escândalo vai à tona e à TV, o mínimo que o povo faz é ir para as ruas (por exemplo no Peru acho, que mataram um prefeito quando seus casos de corrupção viraram notícia de TV). No Brasil cara, de uns 4 anos pra cá explodiram vários casos brutais de corrupção, envolvendo quase todos do governo, e ficou por isso mesmo...
Uma vez vi um programa desses de civilizações antigas na TV e estava conversando com um amigo. E pode não ser exatamente assim, mas também não estou completamente equivocado. A Europa e as grandes potências do mundo são o que são porque foram todas planejadas. Planejadas para serem centros comerciais, financeiros e ao mesmo tempo lugares bons para se morar desde a antiguidade. Tipo Roma implantou todo esse sistema geográfico organizado de ruas, e começou com o sistemas de administração, e governo que existem até hoje. Então esses lugares, tipo Europa, depois Estados Unidos que foi uma colônia feita para povoar, não explorar, foram se desenvolvendo. Isso por outro lado às custas de suas colônias de exploração, como o Brasil foi. E aqui nada era planejado. As cidades eram povoadas e feitas conforme tivessem riquezas para serem extraídas. E exploradores eram trazidos cada vez mais, e quando o país se tornou independente nunca houve uma consistência política nem mesmo geográfica. Por isso existem favelas, casas amontoadas em morros, as ruas todas emboladas saca, igual a maioria dos países de 3° mundo; muito pouco foi planejado por aqui. E isso, junto com a ganância dos políticos e das autoridades, não deu em outra coisa senão o buraco que o país se encontra.

Daí quanto ao futuro... sério, eu não sei. Hoje têm várias organizações, tipo um monte de gente começou a ganhar experiência se baseando em movimentos de esquerda atuais que existem em outros países, e há vários grupos, várias pessoas fazendo coisas boas. Tipo bicicletadas e outros que se importam com o aspecto urbano das cidades, e todo esse papo de ecológico de hoje pode começar a melhorar as coisas. Pode ser até que essa coisa dessa elite conservadora que mande no Brasil esteja mudando, mas eu ainda não vi muitos sinais disso... pode ser que seus filhos, e todo mundo aposta na ‘nova geração’ pra mudar o futuro do país, mas mesmo os mais jovens que provavelmente serão ‘alguém na vida’ apresentam essa característica do conservadorismo.

14- A cultura do Brasil é completamente diferente daqui, o que você conhece do Japão? O que você admira nesse país?
Angu:
Eu não conheço à fundo o Japão, mas o pouco que conheço me parece ser um lugar muito interessante. Conheço um pouco da gravura e da arte japonesa e como o pensamento zen-budista do influenciou a cultura ocidental, na arte principalmente. Uma coisa que acho interessante na cultura do Japão é a maneira bem própria de se expressar, e como isso se reflete nas bandas, nas artes, nos filmes.
Imagino que o que chega aqui para nós é um pouco diferente do que realmente é, mas toda essa estética japonesa de filmes, musica, tatuagem, é uma coisa muito interessante e tenho vontade de conhecer mais a fundo a cultura de vocês... 

Pato: Desde criança eu admiro as coisas daí. Começou com os Tokusatsus que passavam na TV aqui, até hoje gosto. Depois os filmes de máfia e tal, e daí acabei aprendendo bastante, uma época eu lia coisas sobre samurais e código de honra, eu piro em Akira Kurosawa. Tenho várias revistas tipo mangás antigos também de samurais. Eu gosto da forma com que as coisas são tratadas nessas histórias (mais os mangás) do tipo heróis que têm conflitos internos e nem sempre o bem consegue ser separado do mau, fazendo com que a honestidade seja a única forma de sobrevivência. Essas coisa de o herói não se diferenciar muito do vilão, e fazer parte do submundo. Me identifico um pouco.

15-Que bandas japonesas você conhece? O que mais te impressiona nas bandas japonesas?
Angu:
Porra sou fã das bandas do Japão! Gosto pra caralho de Death Side, Rose Rose, Gauze, Lip Cream, Paint Box, Lie, Jellyroll Rockheads, Flash Gordon, Crucial Section, Mind of Asian….....Em geral as bandas japonesas são muito barulhentas, agressivas e poderosas e gosto muito, muito disso. É impressionante como as bandas daí conseguem fazer coisas tão bem feitas, sujas e barulhentas. Nisso vocês são mestres! O “Wasted Dream” do Death Side é um dos melhores discos de punk já lançados, na minha opinião.
Pato: Somos amantes das bandas de hardcore daí. São uma de nossa maiores influências. Minhas preferidas são Gauze e Death Side, curto Gism, SOB, Outto também... Das bandas do fim dos anos 90 pra cá curto o Jellyroll Rockheads. Com certeza o melhor é a fúria, a raiva. Tipo a forma que são cantadas e ao nível a que elevaram o hardcore. A primeira vez que ouvi Death Side foi tipo ‘caralho é o Broken Bones ao extremo’, com aquele vocal insano... Foi tipo a versão demoníaca daquelas músicas de Tokusatsu.

16-Quais os próximos planos da banda?
Angu:
Estamos divulgando o nosso disco, que vai sair na Europa no inicio do ano que vem, e alem disso pretendemos fazer uma tour fora do país (provavelmente na Europa), tocar pelo brasil mesmo, em lugares que ainda não tocamos, lançar um split e o que mais aparecer!
Pato: Estamos ensaiando, pegando uns sons novos, e até o início do ano que vem vamos gravar e talvez saia um split LP. Ao mesmo tempo estamos marcando shows em lugares que ainda não tocamos, divulgando o disco que saiu, e tentando marcar uma turnê ano que vem fora do país.

17-Obrigado pela disponibilidade e paciência, Deixe a mensagem do Alarme para os leitores japoneses.
Angu:
Valeu pela oportunidade dessa entrevista. Para nós é algo muito importante estar em contato com pessoas de tão longe que possam se interessar pelo Alarme. Acho difícil tocarmos por ae um dia, mas é certeza que gostaríamos muito! Obrigado Rafael por ter lançado o nosso disco por ae, via Karasu Killer, à Doll Magazine pelo espaço.
Pato: Valeu mesmo pela entrevista, fiquei muito feliz quando o disco foi lançado aí, e mais ainda quando fizeram a entrevista. Um dos nossos maiores sonhos é de tocar aí, quem sabe não role...e “Laugh ‘till you die”!

Contatos:
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